Boa leitura!

domingo, 24 de junho de 2012

Baionetas de Buri

     Em 1931 e 32, vários Estados reclamavam a volta da Constituição, a Carta Magna Brasileira, usurpada desde de outubro de 1930, pelo ditador Getúlio Vargas. Os políticos dos Estados: MG, RS e SP exigiam para o Brasil o império da Lei, da Ordem e da Justiça.
     "9 de Julho" foi o marco da redenção! Irmanados o povo, a 2ª Região Militar e a Força Pública, São Paulo partiu, heroicamente, para a luta, mas, infelizmente, por questões nebulosas até hoje inexplicáveis, Minas e Rio não cumpriram o sagrado acordo, e o que é mais grave, aderiram a Getúlio e suas forças invadiram o chão paulista.
     Itararé, em 32 era uma cidade aberta, à espera dos "amigos do Sul", foi facilmente tomada, como também Faxina (hoje Itapeva), mas Buri foi a trincheira que, por três meses de luta, estancou as poderosas forças do ditador.
     Deixemos de lado a guerra e fixemos na emoção, situando Buri como o meu "caminho da roça", pois, minhas duas tias e uma irmã foram professoras na terra dos buritis. Uma das tias, Francelina Franco enviuvou muito cedo, com uma ninhada de filhos, criou-os, como mãe amorosa, a custa de sacrifícios e de seus parcos vencimentos de mestra do ensino estadual.Nos trinta anos de magistério, educou centenas ou milhares de burienses que, orgulhosamente, tributaram a minha queria e saudosa tia França reverenciando o seu nome na Escola de 1º e 2º Profª. Francelina Franco.
     Outra tia, professora Maria Antonieta Pereira, lecionou anos e anos no Grupo Escolar da cidade e, por pouco não morreu na tragédia do nhoque de Buri, pois atrasou para o almoço fatídico. Expliquemos: um homem do sítio comprou um quilo de um veneno, talvez formicida, para acabar com as formigas de sua gleba. Naquela época o slogan era "Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil".
     Inocentemente esquece o pacote num balcão de uma venda, cujo dono, pensando em ser farinha de trigo, despejou-o no compartimento correspondente. Acontece que a esposa do vendeiro era dona de uma pensão, na qual várias professoras se alimentavam. O almoço a ser servido era nhoque (os jornais da época publicaram: gnochi de Buri). E o elemento principal naturalmente, o trigo, foi tirado da venda.
     Quatro professoras se adiantaram para o almoço, comeram o nhoque e caíram mortas! Minha irmã Eli de Oliveira Mello deu apenas um bocadinho e esteve entre a vida e a morte por meses e, felizmente depois de muitos tratamentos e com a graça de Deus, ela sobreviveu. A minha tia Profª. Maria Antonieta, sem muita fome chegou depois, desmaiando frente aos corpos de suas quatro colegas e amigas, também da dona da pensão e sua filha, estas duas as primeiras vítimas fatais. Para completar a triste cena, o dono da venda acusado como responsável pela tragédia, suicidou-se na prisão.
     Chega de tristeza!, falemos de Ruy, filho da tia França, que testemunhou, em 1930 e 32, a gauchada fuzilando o gado, requisitado de pequenos fazendeiros da região, para o regalo do churrasco, alteando a voz como bravata "Somos gaúchos de Sta. Maria da Boca do Monte, chê!". Falou-me o próprio primo Ruy do trem blindado chegando, de mansinho, na estação da Sorocabana, bombardeando, metralhando, fuzilando as tropas inimigas.Eu, menino em 1930 e 32 carreguei, por muito tempo, um trauma que foram as duas derrotas paulistas. Júlio Prestes de Albuquerque, uma paulista na Presidência no Brasil!!!, depois de 20 anos, pois Rodrigues Alves bandeirante de Guaratinguetá, presidiu o Brasil 1906-10. 
     Getúlio Vargas jogou o meu sonho para as calendas e até hoje, depois de 102 anos a curul presidencial é vedada a um filho de Piratininga, o Estado líder da Federação. Até quando???9 de julho de 1932! Meu coração se aperta e se aquebranta e lágrimas me embaçam os olhos.
     32 é um estado de espírito! Muita emoção senti, no dia 16 de junho pp, numa festa da saudade, da nostalgia, o palco, a praça 9 de julho dada cidade. A população toda, homens, mulheres e a bela juventude da terra, reverenciando os heróis de 32 que morreram pelo ideal de amor ao Brasil e a sua Carta Magna.Parabéns ao prefeito e as autoridades presentes que, rememorando São Paulo na esplêndida festa, enfatizando os que tombaram pela sacrossanta causa constitucionalista, entre os quais, o jovem cadete de cavalaria da então Força Pública, Ruytemberg Rocha perpetrado em bronze, maravilhosa estátua naquela praça histórica.





     Amigos, vamos amenizar todos esses escritos! Vamos contar a história de um jovem aviador, tenente do Paraná,  é um feito romântico e belo, mas também termina em tragédia!
     João Busse, capitão da Milícia do Paraná, veio a São Paulo, em 1920, matriculando-se na Escola de Aviação da Força Pública, no Campo de Marte e já no ano seguinte ostentava no peito o brevê de piloto aviador. Com essa conquista, quis mostrar que não fora em vão a confiança do governo e de seu povo a ele depositada, arquitetando, então, voltar à terra das Araucárias, pilotando o avião, sobrevoando a capital, para que todos pudessem admirar o grande pássaro conduzido por ele, o primeiro paranaense a conquistar o diploma de aviador.
     Portando, então, orgulho, a asa no peito e o seu entusiasmo, parte de Campinas num Caudron 120 HP, dando início ao extraordinário voo, aguardado com ansiedade pelo governo e povo paranaenses. No dia 24 de maio de 1921, pousando em Itapetininga na qual uma compacta multidão o aplaudiu. Em meio a esta estava Anésia Pinheiro Machado, uma adolescente cursando a Faculdade de Farmácia, apaixonando-se pelo Caudron. Recebeu a orientação de João Busse para procurar a Escola da Força Pública para obtenção do brevê. Anésia Pinheiro Machado tornou-se mais tarde a aviadora mais famosa do Brasil, aperfeiçoando-se nos EUA, pilotando grandes aviões de carreira. 




     De Itapetininga, Busse levantou voo com destino a Faxina (Itapeva) e, sobrevoando a cidade de Buri, encantou-se com o seu povo que o saudava freneticamente, baixou o voo e distraidamente teria batido na torre da igreja, sendo precipitada ao solo. Outra versão é que teria acontecido uma pane no motor, que o obrigou a aterrissar num campo improvisado, chocando-se com um cupinzeiro o que lhe causou a fratura no crânio, morrendo dias depois na Sta. Casa de Itapetininga.Curitiba, engalanada e festiva para receber o grande herói, cobriu-se de luto, o povo chorando pela morte do valoroso filho, um dos primeiros mártires da Aviação Militar do Brasil.
     Terminando esses fatos uns heróicos, outros românticos, também trágicos, quero agradecer e homenagear o Sr. José Roque Dias, pela grandiosidade das festividades em Buri, já que ele, com sua operosidade e fidalguia, comandando o Núcleo de Correspondência MMDC-"Baionetas de Buri", colaborando com o Cel. Mário Fonseca Ventura, exponenciando os dois a perenidade da história da Clarinada Constitucionalista de 1932, na qual foi imolado o jovem cadete da Cavalaria da Tropa Bandeirante.