Boa leitura!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Consciência Negra

A Câmara Municipal de Itapetininga engalanou-se para comemorar o 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra em nossa terra.
Dia 20 de novembro de 1695 foi a morte de Zumbi, o libertador dos escravos. Nasceu Zumbi em 1655, aos 9 anos foi sequestrado no Quilombo dos Palmares por tropas portuguesas, criado por um padre e batizado com o nome de Francisco teve, durante 6 anos, lições de latim e português e ajudava o padre nas cerimônias religiosas.
Aos 15 anos fugiu, voltando para Palmares, na Serra da Barriga em Alagoas, que na época pertencia à Capitania de Pernambuco. No Quilombo encontrou sua avó, a princesa Aqualtune e seu tio Ganga Zuma.
Zumbi desentendeu-se com o tio e assumiu o comando do quilombo, que a essa altura, em 1680, já contava com 30 mil homens, a maioria de negros fugidos, tendo também muitos índios e brancos pobres. A Capitania de Pernambuco, depois de muita luta e de muitos revezes contrar Zumbi, contratou Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista, que organizou um exército muito forte, tendo até artilharia para arrasar o Quilombo Palmerino.
Zumbi era o chefe da República dos Palmares e comandou a resistência contra as tropas aguerridas de Jorge Velho. Os negros tinham uma desvantagem, pois estavam cercados no alto do morro, enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e farta munição. Os Qilombolas encontravam-se em situação precária, sem munição de boca e de guerra.
Famintos e sem poder de fogo, muitos negros fugiram para o sertão, outros se suicidaram ou renderam-se aos atacantes vitoriosos.
Quando a derradeira trincheira foi batida, Zumbi correu ao ponto mais alto da Serra e viu, lá de cima, o seu reino desmoronado e saqueado. Brandiu então, a sua espada reluzente e saltou para o abismo, acompanhado de seus fieis amigos.
Sua cabeça cortada foi levada para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro, para servir de exemplo para outros escravos. Era o dia 20 de novembro de 1695. Em homenagem ao Rei dos Palmares, essa data passsou a ser chamada o Dia da Consciência Negra e Zumbi, oficialmente reconhecido como heróí nacional.
Finda essa primeira cerimônia, a Sociedade dos Veteranos de 32/MMDC Paulistas de Itapetininga! Às Armas!! também prestou homenagem a um herói negro na Revolução Constitucionalista de São Paulo, nascido na terra de Venâncio Ayres.
O Diploma de Honta ao Mérito que transcrevemos, exalta a figura heróica do Cabo Blindado Durvalino de Toledo, veterano de 32:


Noite maravilhosa para mim. Matar a saudade da minha terra, minha querida Itapetininga, onde passei os anos dourados de minha vida e receber o Diploma de Honra ao Mérito Cabo Blindado Durvalino de Toledo, que pertenceu as fileiras do 8º Batalhão de Caçadores da gloriosa Força Pública de São Paulo.





domingo, 27 de novembro de 2011

ROCAM

O Quartel da rua Jorge Miranda, em frente ao nosso Museu de Polícia Militar (antigo hospital da Força Pública) foi Convento dos Agostinianos no século XIX, sendo comprado pelo Estado, em princípio do século XX, para sediar o 2º Batalhão de Infataria, o "Dois de Ouro", vitorioso na Campanha do Paraná.
No decorrer dos anos aquartelou várias Unidades da Corporação e atualmente é ocupado pelo 2º Batalhão de Choque, comandado pelo Cel. Saviolli.
Neste blog é meu desejo ressaltar a figura espartana do Cel. Pedro Resende de Oliveira Mello, o criador das Rondas Ostensivas Com o Apoio de Motoclicletas, que teve a honra de ter o seu nome batizando a Sala de Instrução, que agasalha as maravilhosas máquinas e os maravilhosos pilotos da ROCAM.



O Cel. Mello, como Tenente Comandante da Escolta do Governador  mantinha contato com a Honda e Hyamaha, através de seus representantes em São Paulo, ocasião em que tomou conhecimento do emprego de motoclicletas, pela polícia nipônica, em ocorrências policiais (70% das viaturas, em Tókio, são motocicletas). 



Adquiriu, então, várias revistas especializadas no assunto, aprimorando seus conhecimentos sobre a importante matéria, obtendo também preciosas informações no consulado daquele país.
No posto de Major, em 1988, apresentou o projeto bem detalhado ao Sr. Comandante Geral, obtendo a sua aprovação, recebendo dele a determinação para preparar os pilotos para a nova e nobre missão.



A ROCAM, esplêndida realidade, com a mobilidade de suas motos e capacidade de seus pilotos, presta relevantes serviços ao Estado, pois são os primeiros que assistem aos feridos no caótico trânsito da Paulicéia Desvairada, também os primeiros a enfrentar a fúria e a maldade dos inimigos da lei.
Nessa homenagem, confesso que fui tomado de grande emoção, ao cumprimentar e abraçar o meu querido filho, quando as nossas lágrimas se cruzaram...


domingo, 16 de outubro de 2011

Paulistas de Itapetininga! Às Armas!!

      Dia 03 de outubro pp, estivemos na bela Itapetininga, o Cel. Pesce de Arruda, Cel. Irahy Catalano e eu, convidados que fomos para a inauguração do Monumento, no Quartel do 22º BPM/I, alusivo à Revolução Constitucionalista de 1932.



Frente e verso do Monumento.

      Lá encontramos o Cel. Mário Fonseca Ventura, responsável pela perenidade da história da Revolução Paulista, semeando, pelo interior do Estado, Núcleos de Correspondência da Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, da qual é presidente.
      Na terra de Júlio Prestes, o Cel. Ventura encontrou a alma bandeirante nos jovens Jefferson Biajone e Afrâncio Franco de Oliveira Mello, líderes do Núcleo Paulistas de Itapetininga! Às Armas!, criadores também do Diploma de Honra ao Mérito Capitão Francisco Fabiano Alves, ícone da terra, combatente nas Revoluções de 24, 30 e 32.


      Tive a felicidade de morar, na década de 30, em Itapetininga, conhecida como a Athenas do Sul Paulista, pois a cidade contava com excelentes Estabelecimentos de Ensino, pontificando as Escolas de Farmácia, Odontologia e a famosa Escola Normal "Peixoto Gomide".
      Naquele 03 de outubro, no Batalhão da minha querida Polícia Militar, comandado pelo Ten. Cel. Raul Galindo, fui tomado de muitas emoções e tantas recordações de Itapetininga, o chão sagrado da minha juventude.


Imensas saudades:
                 - da  minha Escola Normal "Peixoto Gomide";
                 - dos bailes no Clube "Venâncio Ayres";
                 - das matinês nos cinemas da cidade: São José, São Pedro e Ideal;
                 - dos banhos na cachoeira, no rio do Chá e na lagoa do Carrito;
            - das retretas da banda de música Lyra, no coreto do Largo da Matriz, onde desfilavam lindas meninas, que empolgaram nossos corações;
             - do trote nos calouros da Escola Normal e das Faculdades de Farmácia e Odontologia, jogados seminus no repuxo da Praça dos Amores;
           - do Alto-falante do Ciro Guidugli, na mesma praça, irradiando o "correio romântico", entremeado de ofertas de música de Paraguaçú, Vicente Celestino, canções de Silvio Caldas, sambas de Chico Alves, valsas de Orlando Silva e Carlos Galhardo e os tangos de Gardel, além de notícias de acontecimentos no Brasil e no exterior;
              - das procissões e festas religiosas, entre estas a da Nossa Senhora da Aparecida do Sul, famosa na região;
           - dos comícios dos Partidos Constitucionalista (PC) e Republicano Paulista (PRP), que acabavam sempre em correrias, brigas e facadas (esses partidos tinham os seus 'viveiros', que ofereciam alimentação, vestuário e até dentaduras de graça em troca de votos);
            - dos pães e doces da padaria do "Vadozinho" e dos jogos de sinuca na sala do "Romão";
              - dos jogos esportivos nas quadras da Peixoto Gomide e do Quartel do 5º BC;
            - das idas à Estação em 1930 e 32 para aplaudir as tropas que demandavam Itararé para defesa do idealismo paulista;
                  -  da chegada do 5º BC do Exército, em 1935, o povo ainda magoado com a derrota de 32. Aos poucos, o Batalhão conquistou a cidade. Jovens oficiais conquistaram os corações de lindas "Athenienses" e muitos casamentos aconteceram. Vários daqueles tenentes ascenderam na carreira militar, chegando ao generalato, entre outros, da minha lembrança, os generais Ribeiro e Glicério.

      Pareceu-me que havia esgotado todos esses 'recuerdos', mas as gavetinhas do cérebro vão se abrindo e as  lembranças chegam:

               - da visita do Conde Matarazzo, em 1936, criando o Clube Italiano Lavoro Dopo  Lavoro, órgão de propaganda do fascismo de Mussolini;
               - dos desfiles dos Camisas Verdes do Partido Integralista de Plínio Salgado;
             - da visita à Escola Normal, de oficiais do Estado Maior, da 2ª Região Militar, entre eles, o Cap. Dilermando de Assis, estigmatizado como O homem que matou Euclides da Cunha. Voltaria a encontrá-lo, em 1948, em São Paulo, já general do exército, no Palácio dos Campos Elíseos, quando entregava ao Governador Adhemar de Barros, o convite de casamento de uma de suas filhas;
                 - do "Dito Assobiador", homem simples, que vivia de bicos, sozinho no mundo, que durante anos e anos precorria as ruas de Itapetininga, assobiando músicas clássicas e populares. O seu coração e seus pulmões pararam e A Tribuna Popular do jornalista Galvão publicou: "Morreu o Dito Assobiador: o homem que durante vários anos encantou e alegrou a cidade com seu assobio";
                 - do cantor famoso Almir Ribeiro, mais conhecido como "Didi de Itapetininga", falecido em 1958, afogado em Punta de  Leste, no Uruguai;
                 - da inauguração da Estação de Rádio PRD-9 comprada de Sorocaba, se não me engano por Bertolino Rossi;
                - do soldado gaúcho, fuzilado em 1930, por ter estuprado uma jovem e matado seu tio, o comandante da praça era o General Portinho;
             - de um certo capitão de e alguns tenentes, se não me engano, em 1938, que invadiram de cueca o Clube "Venâncio Ayres";
             - da Estação repleta, na despedida do 5º BC, em 1937, para Santa Catarina devido à ameaça de uma revolta de Flores de Cunha (ex-governador gaúcho) e Armando Sales de Oliveira (ex-governador paulista), contra Getúlio, namoradas e noivas derramando suas lágrimas...
         - da normalista Alzirinha Camargo, que se projetou no Rio de Janeiro, como cantora e a artista de cinema, além de atuar na Argentina, EUA e países da Europa;
         - da normalista Anésia Pinheiro Machado, que se apaixonou pela aviação quando um avião da Força Pública pousou na cidade, em 1920. Vindo à capital, tirou seu brevê no Campo de Marte, projetando-se na aviação brasileira e conhecida internacionalmente, pilotando aviões maiores, de 2 e 3 motores. Com Tereza de Marzo e Ada Rogato, são as primeiras mulheres aviadoras do Brasil;
         - dos ataques dos vermelhinhos de Getúlio Vargas, no campo de aviação, bombardeando e metralhando alguns pontos da cidade;
           - da alegria do povo de Itapetininga recepcionando o Presidente Júlio Prestes que voltava após 4 anos de exílio na Europa, motivo da Revolução de 30. Lembro-me de seu pai, Cel. Fernando Prestes, à frente de um esquadrão a cavalo saudando o filho querido, em 1934. 
           - era tradição em todos os anos, nos dias de Finados, pessoas caridosas da cidade levarem para centenas de leprosos, que se reuniam em frente ao cemitério a espera de esmolas e de cestas e mais cestas de pasteis e sanduíches. Essa tardição terminou depois de 30, quando foram construídos os leprosários em São Paulo (Santo Ângelo), em Itu (Pirapitingui) e em Bauru (Aimorés).
           Prometo voltar a este blog se mais lembranças tiver. Retornemos ao Quartel do 22º Batalhão para aplaudir o belo Monumento, as belas palavras dos oradores, o garbo do desfile da tropa e dizer da minha gratidão e orgulho ao receber o Diploma de Honra ao Mérito Capitão Francisco Fabiano Alves.



      E a alegria de encontrar meus primos: Afrânio e Dudu Franco. Nesta oportunidade quero parabenizar Itapetininga pelo evento histórico e agradecer as autoridades e seu povo.



      No fecho destes meus escritos, quero destacar o altruísmo do povo paulista em 32. Acusaram-nos de separatista, justamente São Paulo,  o Estado mais brasileiro da Nação, o Estado que deu a grandeza geográfica da Pátria com seus heróicos bandeirantes, que chutaram as Tordesilhas para as bandas do Pacífico, o Estado que garante robustez econômica do nosso amado Brasil, o Estado que tem na base de seu brasão a legenda: Pro Brasilia Fianti Eximia (Para o Brasil façam-se grandes coisas). E na sua bandeira, a bandeira das 13 listras a única dos 27 Estados que tem o mapa do Brasil:


      Vejamos a beleza de sua heráldica: DE DIA E DE NOITE (as listras brancas e pretas) OS PAULISTAS DEFENDEM O BRASIL (o círculo e o mapa) EM TODAS AS DIREÇÕES (os pontos cardeais) MESMO COM SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA (vermelho - sangue).


O Quartel foi construído pela Força Pública em 1931 - sediou o 8º BC na Revolução de 30 e 32 - em 1935, foi ocupado pelo 5º Batalhão de Caçadores do Exército e atualmente é sede do Departamento de Estradas e Rodagem do Estado- DER.


      Minha sugestão é que a Polícia Militar reivindique a posse desse monumento histórico, sendo fácil conseguir uma permuta com o Quartel do atual 22º BPM/I.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Paraquedismo na Força Pública

          O post anterior focalizou a quarta etapa da história de nossa aviação, existindo um grande compasso de espera para a etapa seguinte, a quinta, pois, com a derrota de São Paulo, perdemos, como já foi descrito, o Campo de Marte e os Quartéis de Itapetininga e do Glicério, como presas de guerra.
          Com o decorrer dos anos, o Governo Federal devolveu a São Paulo os dois quartéis, continuando de posse de grande área do Campo de Marte, ocupado, nos dias de hoje, pelo Parque da Aeronáutica, do 4º Comando Aéreo da Força Aérea Brasileira.

          Uma pergunta, talvez, o leitor queira fazer: Como e por que a Força Pública possuía um Núcleo de Paraquedistas?
          Resposta: Em 1950, um civil de nome Wolfrado Rodrigues, diplomado pela Escola de Paraquedismo de São Paulo, procurou, no 7º Batalhão de Caçadores de Sorocaba, o oficial de dia, dando a ideia da fundação de um grupo de paraquedistas naquele batalhão.
          Tomadas, por termo, todas as informações do referido senhor, mandou o comandante o processo para a devida apreciação da Diretoria Geral de Instrução, no qual a ideia foi bem acolhida, resolvendo o Cel. Diretor propor ao Comandante Geral a sua aprovação, formando-se, pois, o Núcleo de Paraquedismo, não em Sorocaba e sim na própria capital.

          Colaborou e muito, o Ten. Milton Cyríaco de Carvalho, do Quartel General, conseguindo formar já a primeira turma, pela Escola de Paraquedismo Civil de São Paulo, situada no Campo de Marte, no ano seguinte, constituindo a quinta etapa, desta brilhante história.
          Outro oficial que deu muito impulso foi o Cap. Adauto Fernandes de Andrade que, na época, servia no gabinete do Dr. Erlindo Salzano, vice-governador do Estado. Sendo também o Dr. Salzano um oficial do nosso Corpo Médico, o entusiasmo de ambos conseguiu do Dr. Adhemar de Barros (Diretor da Aerovias Brasil) todo o apoio moral e material, autorizando que os alunos se utilizassem de seus aviões e de DC-3 da Vasp, determinando, ainda, a compra de 20 paraquedas modernos para a Corporação.
          As aulas teóricas eram dadas na Escola de Paraquedismo Civil do Estado, no Campo de Marte e, na parte prática, para a obtenção do brevê eram obrigatórios cinco saltos.
          Várias publicações nos Boletins Gerais do Quartel General autorizaram os referidos saltos; por curiosidade transcrevemos um deles:

Núcleo de paraquedista - execução de salto: (Bol. Geral nº 97, de 5/5 e Reg. nº 82, de 11/5) - Foi público que no dia 26/04/1953, em Porto Ferreira, neste Estado, os alunos executaram os 4º e o 5º saltos de paraquedas usando os automáticos, os elementos matriculados no Curso de Paraquedista da Força Pública, tendo dirigido os saltos, o Cap. Adauto Fernandes de Andrade.

          O entusiasmo aos poucos foi arrefecendo, faltando verbas para a compra de novos e modernos equipamentos mas, um ponto do seu roteiro glorioso, é bom que o leitor se delicie com o artigo abaixo, extraído do livro: Clarinadas da Tabatinguera, no qual é relatada a história do...

Capitão Djanir Caldas - duas loucuras
  A tragédia do avião President da Pan American

          Era o dia 29 de abril de 1952, quando o mais moderno avião de passageiros do mundo, da Pan American denominado President, sobrevoava de madrugada a selva amazônica, com 60 criaturas humanas, entre tripulantes e passageiros.
          Ali estavam brasileiros, norte-americanos, paraguaios, argentinos, homens e mulheres, adolescentes e crianças unidos pelo destino, para escreverem a mais trágica página que a aviação tinha registrado em plagas sul-americanas, até aquela data.
          Seriam 4 horas e tudo ia bem a bordo do quadrimotor. As comunicações com a torre procediam-se normalmente e, quando o rádio silenciou, foi para sempre, levando para a incomensurável profundeza da selva, dezenas de almas.

O "strato-cruiser" da Pan American - President

          Não havia dúvidas para as autoridades brasileiras e norte-americanas, que sobrevoaram o local, sul do Estado do Pará, de ser humanamente impossível haver sobreviventes, bem como ser impraticável o salto de paraquedas. Este pensamento foi, posteriormente, superado pela coragem de 14 paulistas, 7 da então Força Pública e 7 do Clube de Paraquedistas Civis.
          Cerca das 15h, do dia 7 de maio, um DC-3, da Aerovias Brasil, cedido pelo grande político Dr. Adhemar de Barros, levantou voo do Campo de Marte, deixando os ceus nublados de São Paulo, pousando em Porto Nacional, para a sublime missão. Comandava os paraquedistas da Força Pública, o Cap. Djanir Caldas, sendo sua missão apenas de oficial de ligação com as autoridades (havia oficiais superiores nossos e da Aeronáutica), no entanto, nesse dia 7, apresentou-se ao Cel. Ex. Ribamar de Miranda, seu Comandante e o diálogo se fez:

- Senhor Coronel, eu vou saltar com os meus soldados.
- O senhor é paraquedista capitão?
- Não senhor. Nunca vi um paraquedas.
- Então, o senhor não pode saltar.
- Senhor Coronel, não posso deixar que meus soldados saltem na floresta virgem e fiquem sozinhos, sem um oficial presente. Isso nunca aconteceu na história da Força Pública.
- Mas é uma temeridade Capitão Djanir, não posso e não devo dar essa permissão.
- Então, senhor Coronel, eu me licencio da Corporação e saltarei como civil voluntário e serei o único responsável pelo que me acontecer. Firmarei um documento nesse sentido.

          Este último argumento foi aceito pelo Cel. Ribamar, pois não foi possível demovê-lo de sua obstinada intenção.


          No dia 11, o DC-3 sobrevoou o local exato do salto, baixou a 300 metros, reduzindo a velocidade. Os paraquedistas expiaram pela janela e viram aquele oceano verde estender-se ao infinito e quase certo que tiveram medo. Treme carcaça...

Os paraquedistas civis 

          Talvez, naqueles segundos, tenham vindo à lembrança as estórias terríveis da Amazônia: índios bravios e antropófagos, feras descomunais, formigas gigantes, árvores e insetos carnívoros, areias movediças... mas, ali estavam, com as consciências voltadas com o dever a cumprir, e uma força inabalável os impulsionava para o salto naquele inferno verde - a força misteriosa da solidariedade humana.
          Djanir contou-me, na ocasião: "Que alguns soldados já haviam saltado e quando se abriu a porta do DC-3, para que eu saltasse, senti um vento forte no meu rosto, que ficou insensível, como se estivesse anestesiado. Num relance fiz o sinal da cruz, pensei carinhosamente em minha esposa, esperando nosso segundo filho, na minha filhinha querida e me projetei no espaço; toquei emocionado o chão paraense com alguns arranhões e a alma sôfrega. Em pouco tempo, reunimo-nos para o trabalho penoso de construir um heliponto. Fizemos mais, limpamos o terreno em grande extensão, o que permitiu também o pouso de aviões pequenos. Tudo isso, fizemos com nossos facões, nossos músculos e nossa força moral e espiritual".

Os paraquedistas militares

          A repercussão do feito heróico ultrapassou nossas fronteiras, os jornais americanos projetando o salto dos nossos 14 paraquedistas, destacando a loucura divina do Cap. Djanir Caldas, que recebeu, com todos os seus companheiros, as condecorações e medalhas, ressaltando a nobreza da solidariedade humana.
          O Governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez, decretou a promoção de todos os militares ao posto imediato por ato de bravura. Rápida foi a promoção dos 7 praças paraquedistas, providência cumprida pelo Comandante Geral da Força Pública. Mas, a promoção de oficial era competência do governador.
          O processo demorou demais e, quando tudo estava nos conformes, o Governador era Jânio Quadros que, enfurecido pela projeção política do seu adversário Adhemar de Barros, ordenou a presença de Djanir em seu gabinete.
          Bem com a vida, despreocupado, Djanir rumou aos Campos Elíseos e, qual não foi sua surpresa desagradável quando Jânio, desvairado, com o dedo em riste, vociferou contra ele, em tom ameaçador. Djanir, imperturbável, quedou-se em silêncio, até que Jânio findasse aquele extenso palavreado estúpido e desenfreado.
          Calmo, com a postura espartana, revidou enfaticamente ao Governador:

          - Vossa Excelência não está me ofendendo. Vossa Excelência está ofendendo a minha Corporação, a farda honrada da Força Pública. Como oficial, não admito tal ofensa.

          Jânio, extravasando seu ódio, não o promoveu, desrespeitando o decreto do Governador Garcez, determinando, ao Comandante da Força Pública, que transferisse Djanir para o Batalhão mais distante da capital, como castigo.
          Outra loucura de Djanir: era ele o capitão mais antigo da Corporação e sua promoção, certamente, ao posto de major, se daria em agosto. Ele não cumpriu a ordem de transferência e, tão pouco, se ligou para o perigo de ser submetido a julgamento no Tribunal Militar, pelo crime de desobediência ao Governador e, quando um oficial superior, com escolta, chegou à sua residência, com ordem de conduzi-lo preso ao Quartel General, Djanir, com a maior calma do mundo, entregou-lhe um requerimento solicitando demissão das fileiras da Força Pública.
          Que personalidade fortíssima! Jogou fora quase 30 anos de serviço e os vencimentos de major e seria tenente coronel, com certeza, pelo decreto do ato de bravura. Quem teria coragem de tanta loucura?
           Tudo isso, fielmente relatado, foi depoimento seu, quando era elaborado o livro O Salto na Amazônia. Com tristeza, o autor soube de sua apertura financeira, a preocupação e o zelo com sua família, o abandono e o esquecimento de muitos amigos. Djanir empregou-se no Mackenzie, como professor de química, depois de vencer forte competição.
          Milagrosamente, o Dr. Adhemar de Barros foi eleito Governador para o quatriênio 1960-64 e, já conhecedor da grande injustiça de Jânio Quadros, determinou ao Comandante da Força Pública, que desarquivasse e lhe mandasse o processo referente a Djanir, pois sua intenção era promovê-lo, resgatando tamanha maldade.
          No entanto, a ordem não foi cumprida de imediato, precisava de autuação de vários documentos, revisão de datas, aquela burocracia tremenda! Passou o primeiro ano e nada, veio o segundo ano e nada feito, o processo evoluía somente de gaveta a gaveta, de gabinete a gabinete, de seção a seção e nada, a máquina emperrava, a burocracia era complicada demais e misteriosa (a bem da verdade é preciso que se diga, que houve negligência e, porque não afirmar, sabotagem de colegas, enciumados e invejosos...).
          No último ano de seu governo, Adhemar se desesperou, bateu duro na mesa, ordenando que lhe trouxessem o processo com urgência e, quando sua ordem estava sendo cumprida, em 2 de julho de 1966 ele, Adhemar de Barros, foi cassado politicamente pelo Presidente Castello Branco.
          Quando tudo parecia perdido, surgiu um anjo da guarda, acidentalmente; Djanir encontrou-se com o Dr. Paulo Pestana, Delegado de Classe Especial da Polícia Civil, seu grande amigo e admirador, na época Secretário de Turismo do Estado que, conhecedor de tantas injustiças sofridas pelo heróico e louco "paraquedista", contou ao Governador Roberto de Abreu Sodré toda essa história novelesca.
          Emocionado, Sodré, depois de legalizado todo o processo, promoveu Djanir a tenente coronel em 1967, 15 anos depois da tragédia do avião President.
          Agora, com os vencimentos de tenente coronel, ele pode dar o conforto pleno à família, mas não deixou o Mackenzie, continuou trabalhando e, mercê de sua capacidade de trabalho, inteligência e cultura, aliados aos valores éticos, galgou postos de chefia naquela famosa universidade.
          Mas, um fato novo deveria acontecer, para encher de alegria e orgulho toda a família e seus leais amigos. O livro histórico O Salto na Amazônia caiu nas mãos de um jovem e talentoso advogado, o Dr. D'Asti de Lima, que o anexou a um processo, reivindicando a promoção por ato de bravura, como havia decretado o governo Garcez, em 1952.
          A ação judicial do Dr. D'Asti foi vitoriosa, promovendo Djanir a coronel, em 1991, sendo então cumprido aquele decreto estadual de 1952, apenas... 39 anos depois!!!

         Nota 1: as imagens reproduzidas neste post atestam o dever bem cumprido dos paraquedistas de São Paulo, que na ocasião foram considerados loucos mas, na verdade, foram, pensamos nós, os precursores do PARASAR, organismo de elite, composto de paraquedistas da Força Aérea Brasileira, que tem cumprido sua missão nos mais distantes pontos do território nacional, colaborando em calamidade de outros países, vivendo páginas de glórias onde quer que haja uma vida a salvar!

            Nota 2: O Campo de Marte pertenceu, em toda a sua extensão, à então Força Pública, onde eram realizados, como já vimos, os treinamentos e desfiles da tropa. Com o correr dos anos, ele fragmentou-se, aquartelando, nos dias atuais, o Parque da Aeronáutica da FAB, Escolas de Aviação, de helicópteros, inclusive a da Polícia Civil, de Paraquedista e outras Repartições do Estado. Aquartela também o Grupamento Aéreo da PM, com seis aviões e 25 helicópteros, os Águias, o cartão de visita da Corporação. É a sexta etapa da presença nossa no histórico Campo. E temos a certeza de que o Grupamento veio para ficar.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Grupo Misto da Aviação Militar da Força Pública e a Força Aérea Constitucionalista

     Ao eclodir a Revolução Constitucionalista de 1932, o Campo de Marte foi retomado por elementos do Regimento de Cavalaria, encontrando-se em um de seus hangares dois aviões Waco, de 180 HP, da Aviação do Exército. Também foram encontrados no 4ºRI mais dois aviões Potez de bombardeio, de 450 HP, constituindo esses 4 aparelhos, o primeiro núcleo da aviação bandeirante, tendo sido presos vários aviadores do exército que não aderiam ao ideal paulista.
     Renascia, então, das cinzas a Fênix Rubra, pelo decreto 5590, de 15 de julho de 1932 constituindo, com a ajuda de aviadores civis e militares a quarta etapa da nossa aviação, com a denonimação de Grupo Misto da Aviação Paulista. Esse grupo passou a dispor dos aparelhos do Exército já citados e mais os seguintes:

       um Moth e um Fiat doados pelo Aeroclube de São Paulo;
       um JN pertencente ao Cap. FP Antônio Reinaldo Gonçalvez;
       um Morane cedido por empréstimo.

     Idealistas paulistas doaram os seguinte aviões: um Moth, um Fiat, um Newport e um Henrioth.
     Foram comprados no Paraguai mais 4 aviões, sendo ampliados os hangares no Campo de Marte.


     Do Rio de Janeiro, chegaram mais um Waco e Newport Delage, ambos de 456 HP, pilotados pelos Ten. Mota Lima e Adherbal da Costa Oliveira, que aderiram à causa constitucionalista, sendo requisitado também um avião Late 26 de bombardeio, 450 HP que pertenceu ao Aeropostal. Somando ao todo, o governo paulista adquiriu três Curtis-Falcão, todos de 450 HP.


     Sob o comando do Maj. Dr. Ismael Torres Guilherme Cristiano, o grupamento possuía os seguinte pilotos: Orton Hoover, Cap. João Negrão, Reinaldo Gonçalvez, Alberto Americano, João de Quadros e Cândido Bravo, os Ten. Vicente Borba, Sebatião Machado e Sílvio Hoelz.
     Valorosos elementos da aviação civil apresentaram-se no Campo de Marte, integrando-se no Grupo Misto, como pilotos ou observadores: João Baungart, Rosário Russo, Paranhos do Rio Branco, todos promovidos ao posto de Tenentes de Emergência.

     Imitando os aviadores do Exército, Mota Lima e Adherbal de Oliveira também aderiram a Revolução, com o mesmo ideal, os Maj. Ivo Borges, Cap. Lysias Augusto Rodrigues e os Tens. Luis Martins de Araújo, Orsine de Araújo Coriolano, José Angelo Gomes Ribeiro e Mário Machado Bittencourt, esses dois últimos mortos heroicamente, num ataque à navios de guerra da Marinha, que bloqueavam o porto de Santos, impedindo o desembarque de material bélico comprado nos EUA.
     Há duas ruas na Vila Mariana homenageando esses valorosos aviadores do Exército Brasileiro.
Estrutura-se, então, a Quinta Arma do Exército Constitucinalista, assim organizado:

 Força Aérea
Comando: Maj. Ex Ivo Borges

Grupo Misto de Aviação Paulista       
                             Cmt. Maj. Ismael C. T. Guilherme                                  
Subcmt. Cap. João Negrão
João de Quadros, Cândido Brava      
Ten. Vicente Borba, Sebastião Machado
Sílvio Hoelz, Benedito de Paula França
pilotos civis promovidos a tenente.

1º Grupo de Aviões de Caça
Cmt. Maj. Lysias A. Rodrigues 
Pilotos: Cap. Adherbal C. Oliveira
José A. Gomes Ribeiro
Cap. Arthur Mota Lima
Cap. Mário Machado Bittencourt
e pilotos civis do Grupo Misto.

Pilotos e mecânicos do Grupo Misto.

     Sob a insígna de "Gaviões de Penacho", a Força Aérea cobriu-se de glórias, não obstante a precariedade de meios. As ações dos intrépitos aviadores da Força Aérea Constitucionalista foram inúmeras, pois, em todas as frentes de combate estavam os nossos aviões, observando, metralhando e bombardeando as posições inimigas. Em duelos com os vermelhinhos de Getúlio Vargas, tivemos grandes batalhas, logrando êxito na maioria delas, muito embora a Ditadura possuísse um poder aéreo dez vezes maior que o nosso.
     Para o fecho desta história é necessário que se diga que a Força Pública empregou todo o seu efetivo para a sagrada causa de dar à Pátria sua Carta Magna, a Constituição brasileira.

Os intrépitos Ases e seus aviões.

     Lutamos heroicamente por 3 meses, em todos os setores, constituindo o alicerce de todo o Exército Constitucionalista, embora enfraquecida pelas duras campanhas (1922, 24, 26 e 30), sem Artilharia, Aviação Militar e outros petrechos bélicos, confiscados em 1930. Mesmo assim, a tropa de Piratininga se bateu valentemente, enfrentando um adversário aguerrido, dotado de abundante e moderno material de guerra e efetivo infinitamente superior. Em fins de setembro de 1932, quando a derrota das armas constitucionalistas era iminente, o armistício foi necessário, terminando as operações de guerra a 2 de outubro.

Acima o Ten. Negrão. Ao centro tanque lança-chamas que São Paulo construiu e abaixo dois pilotos civis do Grupo Misto.

Ao centro Maj. Lysias, Gomes Ribeiro e Mário Bittencourt que tiveram por túmulo a imensidão do Atlântico.
Nota: O mecânico Ciquini que foi tripulante do Jahu teve também o Oceano Atlântico como túmulo, em 1929, no desastre aéreo na Baía de Santos.

     Nesse mesmo dia, a Força Aérea Constitucionalista foi extinta. Foi muito triste!!! A gloriosa Aviação da Fora Pública, nascida em dezembro de 1913 teve o seu fim em outubro de 1932. Perdemos mais uma vez o Campo de Marte, esse campo que leva o nome do Deus da Guerra, esse campo das manobras e desfiles memoráveis da Força Pública, mas certo vírus ficou em suas pistas e em seus hangares, porque a Ave Rubra alçaria o voo com os heróicos paraquedistas da Corporação, em 1950.


Continuaremos no próximo post...


Fotos extraídas do livro: Asas e Glórias de São Paulo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Grupamento Aéreo da PM - A Aviação da Força Pública no Guapira e no Campo de Marte


        
O avião São Paulo, construído nas oficinas da Escola de Aviação do Campo de Marte.    

       Saudemos o Grupamento Aéreo da nossa gloriosa Polícia Militar de São Paulo, nos seus 27 anos! Linda a festa comemorativa em seu quartel, no Campo de Marte, a 15 de agosto pp.
     No pátio, oficiais e praças perfilados, aviões e helicópteros em linha, à espera do Cel. Camilo, dinâmico Comandante Geral da Tropa Bandeirante.
     Na festa, autoridades e povo, em meio a um delicioso coquetel, admiravam as belas aeronaves, onde delicados monitores, orgulhosamente, davam ênfase aos valorosos pilotos, com seus Águias, salvando vidas em São Paulo, no interior paulista e em outros Estados, quando assolados por incêndios, inundações, deslizamentos de terra e outras calamidades.
     Deixemos um pouco a memorável festa, falemos do Campo de Marte, esse pedaço do chão paulista, que agasalhou a Escola de Aviação da antiga Força Pública, em 1919 a segunda etapa de sua gloriosa história, sabendo-se que a primeira foi no Campo do Guapira, hoje Parque Edu Chaves, homenageando o exímio aviador vitorioso no raide Rio-Buenos Aires, em dezembro de 1920.

Edu Chaves - Comandante da Escola e o primeiro piloto a ligar Rio-Buenos Aires. 
     Para orgulho de nossa PM, destaquemos seu pioneirismo na aviação militar no Brasil, por força da lei 1395-A de 17 de dezembro de 1913, que, em seu artigo 14 determinava: Ficam criados o Curso Especial Militar (hoje Academia do Barro Branco) e a Escola de Aviação; no segundo parágrafo rezava: A Escola de Aviação terá por fim preparar na Força Pública aviadores militares. O artigo 15 determinava: A Organização dos Pilotos para o funcionamento da Escola de Aviação, na sede do Campo do Guapira, nela sendo matriculados além de militares da Força Pública, também civis, tendo como responsáveis o aviador Edu Chaves e Cícero Marques, ambos brevetados na França.
     A Escola teve vida efêmera devido à 1ª Grande Guerra Mundial, pois era impossível a importação de aviões e peças. O próprio diretor Edu Chaves desligou-se do comando, indo à França, lutando no posto de 1º ten. da aviação francesa. Os aparelhos, alguns defeituosos, foram recolhidos na Estação Oeste do Corpo de Bombeiros.   
     A segunda etapa, como vimos acima, no Campo de Marte, teve a colaboração do aviador americano Orton Hoover que, desligando-se da aviação naval (criada em 1916), lutou contra a Alemanha, quando sua pátria entrou na guerra. Foi Orton Hoover a centelha que reacendeu a antiga flama, dando em resultado a aprovação da lei 1675-A, de 9 de dezembro de 1919, que restabeleceu a Escola de Aviação da Força Pública, agora no comando do Ten. Cel. Chrisanto Guimarães, fase em que foram construídos muitos campos de aviação nas cidades do interior, a Corporação semeando a mentalidade aeronáutica em todo o Estado.
            
O pessoal da aviação da Força Pública nos primeiros meses da criação daquela arma na milícia paulista, em 1920.

 O Ten. Cel. Chrisanto Guimarães - Comandante da Escola de Aviação.

     Na Revolução de 1924, os rebeldes, comandados pelo Gen. Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, apoderaram–se dos aviões, usando-os em seus objetivos como arma de guerra, enquanto permaneciam na capital.
     Com a retirada dos revoltosos para Foz do Iguaçu, no Paraná, a frota composta de 8 aviões, foi guardada nos hangares, a fim de servir de base para a terceira etapa da Avião Militar Paulista, pois, em dezembro desse conturbado ano, começaram a riscar os céus de São Paulo os aviões, agora da Esquadrilha de Aviação da Força Pública, renascida pela lei 2051, de 31 de dezembro de 1924, comandada pelo Maj. Garrido, continuando instrutor o americano Hoover.
     Um detalhe da lei: além das funções normais como a Quinta Arma de guerra (Infantaria, Cavalaria, Artilharia e Engenharia, as outras), a Esquadrilha foi encarregada também do levantamento aerofotogramétrico do Estado.
     Vamos ver o que de importante aconteceu nesta terceira etapa:

Inauguração de Campo de aviação em Itararé. Ao centro está o Maj. Garrido e a sua direita o aviador Orton Hoover.
     
O Maj. José Garrido - Comandante da esquadrilha de Aviação e um grupo de alunos pilotos.

Sentados estão o instrutor Orton Hoover e o Ten. Antônio Pereira Lima. Em pé o Ten. Negrão e Marcondes.

1ª – O primeiro salto de paraquedas em São Paulo, executado pelo Ten. Antônio Pereira Lima, em 1925. Nunca tinha visto um paraquedas, mas recebeu ordem do comando geral para saltar; 


2ª – A Esquadrilha participa da Brigada Mista do Cel. Pedro Dias de Campos (2400 homens), em julho de 1926, contra a Divisão Revolucionária comandada pelo Gen. Miguel Costa, em Goiás;

3ª – O Ten. Chantre é o primeiro mártir da Aviação Militar Paulista. Numa das idas para Goiás, seu avião cai em Uberaba, ficando o segundo piloto, o Ten. Antônio Pereira Lima, com ferimentos graves sendo internado na Santa Casa local, ficando 8 dias em coma;

4ª – O Cap. Nataniel Prado, encarregado da fabricação de bombas para a aviação, morre em consequência da explosão de um petardo 75. Morreram também, vários soldados, inclusive músicos e o maestro da banda, o Cap. Lorena cujo ensaio era em uma sala contígua no Quartel do 1º Batalhão (ROTA), em 1926;

O hidroavião Jahu e dois biplanos da Esquadrilha da Força Pública.

5ª – O Ten. João Negrão, herói do hidroavião Jahu, na travessia do Atlântico Sul, em 1927;

6ª - Mortes do Cap. Messias e do Deputado Lacerda Franco, na queda do avião Anhanguera, quando da inauguração do Campo em Itatinga, em 1929;

Negrão e Machado no centro ladeados por Marcondes, Quadros, Pereira Lima, Martiniano e a mascote.

7ª - Na Revolução Getulista de 1930, a Esquadrilha atua em Itararé, Sengés e Morungava, essas duas no Paraná, tendo à frente os pilotos Tens. João Negrão, João de Quadros, Sílvio Hoels, Sebastião Machado, Vicente Borba, Alfredo Camargo e Deoclécio Guedes. Nesse mesmo ano, o instrutor Orton Hoover é promovido a major a título precário;

8ª – Toda Aviação Militar da Força Pública passa à disposição da 2ª Região Militar a fim de constituir, com a Aviação do Exército, um grupo legalista sob o comando do Maj. Lysias Rodrigues;

9ª – Com a vitória de Getúlio Vargas, assume o comando da Aviação Militar da Força Pública, o Ten. Cel. Ex Eduardo Gomes, que passa o comando dias depois ao Cap. Reinaldo Rodrigues (revolucionário de Miguel Costa);

10ª – Fim da Esquadrilha – o Boletim nº. 29, de 18 de dezembro de 1930 publica: Em virtude de escapar à finalidade desta força, e devendo ser a aviação um elemento do Exército, é dissolvida, nesta data a Escola de Aviação, cujo material será entregue ao governo federal.
     
     Triste esse final do ano de 1930, pois o governo federal apoderou-se do Campo de Marte, da nossa Esquadrilha de Aviação, reduzindo o efetivo do Pequeno Exército Paulista, despojando-o ainda de sua artilharia e armas pesadas, restando-nos apenas armas leves, fuzis e revólveres, muitos deles defeituosos.
     1930 foi também o fim da primeira república, da política do café-com-leite e da Constituição de 1891, pairando uma certa tristeza no coração dos combatentes paulistas.
      O Campo de Marte foi ocupado pela aviação do Exército, mas, a Fênix Rubra ainda renasceria das cinzas, iluminando os corações brasileiros de São Paulo, na clarinada paulista de 1932.
         
      Continuaremos no próximo post ...


Fotos extraídas do livro A Força Pública de São Paulo 1831-1931.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo

A Escola de Educação Física nasceu numa das dependências do 1º BI, hoje 1º BPM/M Tobias de Aguiar, em 1910. Exercícios de ginástica no ginásio da R. Jorge Miranda.


Escola em formatura: visita do adido militar britânico.

O Comandante Cel. Tabajara Camilli honrou-me sobremaneira, nomeando-me membro da Banca Examinadora no julgamento da monografia do Tenente Alex Ribeiro, obra literária coroando sua formatura no Curso de Instrutores da centenária e gloriosa Unidade da PM, pioneira no Brasil.

O tema escolhido pelo formando foi a vida e a obra do Cel. Domício Silveira, oficial dígno e expoente da Tropa Bandeirante. Feliz a escolha, pois, focaliza a figura ímpar do Cel. Domício, homem simples do interior paulista, vencedor de tantos obstáculos para a concretização de seu sonho, a carreira militar na Força Pública, onde alcançou o posto máximo da hierarquia.

O fulcro da excelente monografia ressalta o atleta, o Instrutor de Educação Física, formado em 1947 na turma “Cel. Pedro Dias de Campos”. Apaixonado pela sublime arte de D’Artagnan, diplomou-se em 1948  Mestre de Armas, sendo nomeado o instrutor da matéria na própria Escola, difundindo o manejo e a magia do florete, espada e sabre nos Batalhões da Corporação.
Dilatou a fronteira do seu ideal, ministrando aulas em associações de classe, em clubes de muitas cidades interiorianas. Nessa trajetória vitoriosa, fixou-se em Bauru, no Comando do 4.º BC, diplomando-se pela Instituição Toledo de Ensino e, mercê de suas qualidades, cultura geral e profissional, foi nomeado secretário da mesma faculdade.
Sem prejuízo de suas funções castrenses, estendeu o seu ideal, continuando a difundir aquele sonho espadachim, tornando o próprio quartel como arena, a faculdade como palco de excelentes exibições, onde militares, civis e elementos nobres da sociedade bauruense beberam os seus ensinamentos e os passaram para novas gerações afixionadas pela bela esgrima.  
Tornou-se popular e admirado na bela Cidade Sem Limites, com as suas múltiplas funções, Mestre de Armas, Professor de Educação Física, Secretário da Faculdade e, graças a sua experiência, inteligência e capacidade de ação, foi guindado a Diretor da ITE. Tudo isso, sem esquecer a nobre função de Comandante de um Batalhão, de heróica tradição, responsável pela segurança da rica região noroeste de São Paulo.
Atraído pela política, ao longo do tempo, exerceu a nobre função de Sscretário de várias prefeituras. Nessa época, o Projeto Rondon assoberba o seu idealismo, obrigando-o a viajar dezenas de vezes ao Norte e Nordeste, capitaneando jovens acadêmicos idealistas, que desejavam um Brasil melhor, sadio unido e forte (pena que o maravilhoso projeto perdeu aquele élan do passado).
Aos 92 anos, o velho guerreiro não descansa, percorre a sua querida “praia”, a bela Cidade Sem Limites, visita os subúrbios e as periferias. Cristão e devoto de São Vicente de Paula, ampara os necessitados e toda aquela meninada carente, fazendo preleções, dando conselhos, colocando a bondade em seus corações, exaltando a mensagem maravilhosa do Barão de Cubertaim, o pai das Olimpíadas Modernas – mens sana in corpore sano - não faltando aulas de esgrima, os floretes, espadas  e sabres de madeira rústica. Sempre carrega o seu violino, companheiro de 80 anos, sendo certo que encaminhou centenas de jovens para a prática da divina música.
No fecho exuberante da monografia surge a figura imponente do Cel. Pedro Dias de Campos, grande Comandante Geral da Força Pública em 1924, herói de tantas Revoluções. Nascido em Araçoiaba da Serra, antiga Campo Largo de Sorocaba, muito jovem, soldado do 1.º BI (hoje a ROTA), teve o seu batismo de fogo, quando o lendário batalhão defendeu São Paulo, ameaçado pelos rebeldes do sul, na Revolta da Armada em 1893.
Intelectual de nomeada Pedro Dias escreveu dezenas de livros; pertenceu aos Institutos Históricos de São Paulo e diversos Estados da Federação; foi o intérprete da Missão Militar Francesa, traduzindo os regulamentos do exército francês; introduziu a Esgrima e o Escotismo em São Paulo, certamente pioneiros no Brasil e a Cruz Azul e o Colégio da Polícia Militar, cartões de visita da Corporação, são obras suas, inspiração divina que teve em pleno combate no morro do Cambuci.
Há uma ligação muito nobre entre Domício da Silveira e Pedro Dias de Campos, que precisa ser destacada. Vejamos: em 1948 o Governador Adhemar Pereira de Barros soube que o Cel. Pedro Dias, aposentando ou reformado em 1928, estava passando privações, pois, os seus vencimentos continuavam os mesmos após 20 anos de inatividade. Sensibilizado pela situação de seu instrutor de escotismo, (em São Manuel, na adolescência, Adhemar foi aluno do cel.), o Governador chamou-o a Palácio. Abraçaram-se e rememoraram aqueles belos dias do passado. Brotou então, na consciência do grande  Adhemar, a necessidade de ser revogada a Lei desumana, que alienava os inativos do Estado e a Lei foi revogada.
Mas, não parou aí a grandeza de coração de Adhemar, pois o velho cel., guerreiro de tantas lutas foi nomeado Presidente da Federação Paulista de Escotismo, com direito a um carro, motorista e ter um  Oficial Ajudante de Ordem. O então Ten. Domício da Silveira foi o escolhido.
Estão aí meus amigos as pinceladas históricas envolvendo duas pessoas maravilhosas, brilhantes oficiais da Tropa de Piratininga, extraídas da brilhante monografia do Ten. Alex Ribeiro a quem damos os nossos parabéns.
Parabéns também a todos os oficiais e praças da centenária Escola, a mais antiga do Brasil.
Parabéns Cel. Tabajara Camilli.