Boa leitura!

domingo, 16 de outubro de 2011

Paulistas de Itapetininga! Às Armas!!

      Dia 03 de outubro pp, estivemos na bela Itapetininga, o Cel. Pesce de Arruda, Cel. Irahy Catalano e eu, convidados que fomos para a inauguração do Monumento, no Quartel do 22º BPM/I, alusivo à Revolução Constitucionalista de 1932.



Frente e verso do Monumento.

      Lá encontramos o Cel. Mário Fonseca Ventura, responsável pela perenidade da história da Revolução Paulista, semeando, pelo interior do Estado, Núcleos de Correspondência da Sociedade Veteranos de 32 - MMDC, da qual é presidente.
      Na terra de Júlio Prestes, o Cel. Ventura encontrou a alma bandeirante nos jovens Jefferson Biajone e Afrâncio Franco de Oliveira Mello, líderes do Núcleo Paulistas de Itapetininga! Às Armas!, criadores também do Diploma de Honra ao Mérito Capitão Francisco Fabiano Alves, ícone da terra, combatente nas Revoluções de 24, 30 e 32.


      Tive a felicidade de morar, na década de 30, em Itapetininga, conhecida como a Athenas do Sul Paulista, pois a cidade contava com excelentes Estabelecimentos de Ensino, pontificando as Escolas de Farmácia, Odontologia e a famosa Escola Normal "Peixoto Gomide".
      Naquele 03 de outubro, no Batalhão da minha querida Polícia Militar, comandado pelo Ten. Cel. Raul Galindo, fui tomado de muitas emoções e tantas recordações de Itapetininga, o chão sagrado da minha juventude.


Imensas saudades:
                 - da  minha Escola Normal "Peixoto Gomide";
                 - dos bailes no Clube "Venâncio Ayres";
                 - das matinês nos cinemas da cidade: São José, São Pedro e Ideal;
                 - dos banhos na cachoeira, no rio do Chá e na lagoa do Carrito;
            - das retretas da banda de música Lyra, no coreto do Largo da Matriz, onde desfilavam lindas meninas, que empolgaram nossos corações;
             - do trote nos calouros da Escola Normal e das Faculdades de Farmácia e Odontologia, jogados seminus no repuxo da Praça dos Amores;
           - do Alto-falante do Ciro Guidugli, na mesma praça, irradiando o "correio romântico", entremeado de ofertas de música de Paraguaçú, Vicente Celestino, canções de Silvio Caldas, sambas de Chico Alves, valsas de Orlando Silva e Carlos Galhardo e os tangos de Gardel, além de notícias de acontecimentos no Brasil e no exterior;
              - das procissões e festas religiosas, entre estas a da Nossa Senhora da Aparecida do Sul, famosa na região;
           - dos comícios dos Partidos Constitucionalista (PC) e Republicano Paulista (PRP), que acabavam sempre em correrias, brigas e facadas (esses partidos tinham os seus 'viveiros', que ofereciam alimentação, vestuário e até dentaduras de graça em troca de votos);
            - dos pães e doces da padaria do "Vadozinho" e dos jogos de sinuca na sala do "Romão";
              - dos jogos esportivos nas quadras da Peixoto Gomide e do Quartel do 5º BC;
            - das idas à Estação em 1930 e 32 para aplaudir as tropas que demandavam Itararé para defesa do idealismo paulista;
                  -  da chegada do 5º BC do Exército, em 1935, o povo ainda magoado com a derrota de 32. Aos poucos, o Batalhão conquistou a cidade. Jovens oficiais conquistaram os corações de lindas "Athenienses" e muitos casamentos aconteceram. Vários daqueles tenentes ascenderam na carreira militar, chegando ao generalato, entre outros, da minha lembrança, os generais Ribeiro e Glicério.

      Pareceu-me que havia esgotado todos esses 'recuerdos', mas as gavetinhas do cérebro vão se abrindo e as  lembranças chegam:

               - da visita do Conde Matarazzo, em 1936, criando o Clube Italiano Lavoro Dopo  Lavoro, órgão de propaganda do fascismo de Mussolini;
               - dos desfiles dos Camisas Verdes do Partido Integralista de Plínio Salgado;
             - da visita à Escola Normal, de oficiais do Estado Maior, da 2ª Região Militar, entre eles, o Cap. Dilermando de Assis, estigmatizado como O homem que matou Euclides da Cunha. Voltaria a encontrá-lo, em 1948, em São Paulo, já general do exército, no Palácio dos Campos Elíseos, quando entregava ao Governador Adhemar de Barros, o convite de casamento de uma de suas filhas;
                 - do "Dito Assobiador", homem simples, que vivia de bicos, sozinho no mundo, que durante anos e anos precorria as ruas de Itapetininga, assobiando músicas clássicas e populares. O seu coração e seus pulmões pararam e A Tribuna Popular do jornalista Galvão publicou: "Morreu o Dito Assobiador: o homem que durante vários anos encantou e alegrou a cidade com seu assobio";
                 - do cantor famoso Almir Ribeiro, mais conhecido como "Didi de Itapetininga", falecido em 1958, afogado em Punta de  Leste, no Uruguai;
                 - da inauguração da Estação de Rádio PRD-9 comprada de Sorocaba, se não me engano por Bertolino Rossi;
                - do soldado gaúcho, fuzilado em 1930, por ter estuprado uma jovem e matado seu tio, o comandante da praça era o General Portinho;
             - de um certo capitão de e alguns tenentes, se não me engano, em 1938, que invadiram de cueca o Clube "Venâncio Ayres";
             - da Estação repleta, na despedida do 5º BC, em 1937, para Santa Catarina devido à ameaça de uma revolta de Flores de Cunha (ex-governador gaúcho) e Armando Sales de Oliveira (ex-governador paulista), contra Getúlio, namoradas e noivas derramando suas lágrimas...
         - da normalista Alzirinha Camargo, que se projetou no Rio de Janeiro, como cantora e a artista de cinema, além de atuar na Argentina, EUA e países da Europa;
         - da normalista Anésia Pinheiro Machado, que se apaixonou pela aviação quando um avião da Força Pública pousou na cidade, em 1920. Vindo à capital, tirou seu brevê no Campo de Marte, projetando-se na aviação brasileira e conhecida internacionalmente, pilotando aviões maiores, de 2 e 3 motores. Com Tereza de Marzo e Ada Rogato, são as primeiras mulheres aviadoras do Brasil;
         - dos ataques dos vermelhinhos de Getúlio Vargas, no campo de aviação, bombardeando e metralhando alguns pontos da cidade;
           - da alegria do povo de Itapetininga recepcionando o Presidente Júlio Prestes que voltava após 4 anos de exílio na Europa, motivo da Revolução de 30. Lembro-me de seu pai, Cel. Fernando Prestes, à frente de um esquadrão a cavalo saudando o filho querido, em 1934. 
           - era tradição em todos os anos, nos dias de Finados, pessoas caridosas da cidade levarem para centenas de leprosos, que se reuniam em frente ao cemitério a espera de esmolas e de cestas e mais cestas de pasteis e sanduíches. Essa tardição terminou depois de 30, quando foram construídos os leprosários em São Paulo (Santo Ângelo), em Itu (Pirapitingui) e em Bauru (Aimorés).
           Prometo voltar a este blog se mais lembranças tiver. Retornemos ao Quartel do 22º Batalhão para aplaudir o belo Monumento, as belas palavras dos oradores, o garbo do desfile da tropa e dizer da minha gratidão e orgulho ao receber o Diploma de Honra ao Mérito Capitão Francisco Fabiano Alves.



      E a alegria de encontrar meus primos: Afrânio e Dudu Franco. Nesta oportunidade quero parabenizar Itapetininga pelo evento histórico e agradecer as autoridades e seu povo.



      No fecho destes meus escritos, quero destacar o altruísmo do povo paulista em 32. Acusaram-nos de separatista, justamente São Paulo,  o Estado mais brasileiro da Nação, o Estado que deu a grandeza geográfica da Pátria com seus heróicos bandeirantes, que chutaram as Tordesilhas para as bandas do Pacífico, o Estado que garante robustez econômica do nosso amado Brasil, o Estado que tem na base de seu brasão a legenda: Pro Brasilia Fianti Eximia (Para o Brasil façam-se grandes coisas). E na sua bandeira, a bandeira das 13 listras a única dos 27 Estados que tem o mapa do Brasil:


      Vejamos a beleza de sua heráldica: DE DIA E DE NOITE (as listras brancas e pretas) OS PAULISTAS DEFENDEM O BRASIL (o círculo e o mapa) EM TODAS AS DIREÇÕES (os pontos cardeais) MESMO COM SACRIFÍCIO DA PRÓPRIA VIDA (vermelho - sangue).


O Quartel foi construído pela Força Pública em 1931 - sediou o 8º BC na Revolução de 30 e 32 - em 1935, foi ocupado pelo 5º Batalhão de Caçadores do Exército e atualmente é sede do Departamento de Estradas e Rodagem do Estado- DER.


      Minha sugestão é que a Polícia Militar reivindique a posse desse monumento histórico, sendo fácil conseguir uma permuta com o Quartel do atual 22º BPM/I.

domingo, 2 de outubro de 2011

O Paraquedismo na Força Pública

          O post anterior focalizou a quarta etapa da história de nossa aviação, existindo um grande compasso de espera para a etapa seguinte, a quinta, pois, com a derrota de São Paulo, perdemos, como já foi descrito, o Campo de Marte e os Quartéis de Itapetininga e do Glicério, como presas de guerra.
          Com o decorrer dos anos, o Governo Federal devolveu a São Paulo os dois quartéis, continuando de posse de grande área do Campo de Marte, ocupado, nos dias de hoje, pelo Parque da Aeronáutica, do 4º Comando Aéreo da Força Aérea Brasileira.

          Uma pergunta, talvez, o leitor queira fazer: Como e por que a Força Pública possuía um Núcleo de Paraquedistas?
          Resposta: Em 1950, um civil de nome Wolfrado Rodrigues, diplomado pela Escola de Paraquedismo de São Paulo, procurou, no 7º Batalhão de Caçadores de Sorocaba, o oficial de dia, dando a ideia da fundação de um grupo de paraquedistas naquele batalhão.
          Tomadas, por termo, todas as informações do referido senhor, mandou o comandante o processo para a devida apreciação da Diretoria Geral de Instrução, no qual a ideia foi bem acolhida, resolvendo o Cel. Diretor propor ao Comandante Geral a sua aprovação, formando-se, pois, o Núcleo de Paraquedismo, não em Sorocaba e sim na própria capital.

          Colaborou e muito, o Ten. Milton Cyríaco de Carvalho, do Quartel General, conseguindo formar já a primeira turma, pela Escola de Paraquedismo Civil de São Paulo, situada no Campo de Marte, no ano seguinte, constituindo a quinta etapa, desta brilhante história.
          Outro oficial que deu muito impulso foi o Cap. Adauto Fernandes de Andrade que, na época, servia no gabinete do Dr. Erlindo Salzano, vice-governador do Estado. Sendo também o Dr. Salzano um oficial do nosso Corpo Médico, o entusiasmo de ambos conseguiu do Dr. Adhemar de Barros (Diretor da Aerovias Brasil) todo o apoio moral e material, autorizando que os alunos se utilizassem de seus aviões e de DC-3 da Vasp, determinando, ainda, a compra de 20 paraquedas modernos para a Corporação.
          As aulas teóricas eram dadas na Escola de Paraquedismo Civil do Estado, no Campo de Marte e, na parte prática, para a obtenção do brevê eram obrigatórios cinco saltos.
          Várias publicações nos Boletins Gerais do Quartel General autorizaram os referidos saltos; por curiosidade transcrevemos um deles:

Núcleo de paraquedista - execução de salto: (Bol. Geral nº 97, de 5/5 e Reg. nº 82, de 11/5) - Foi público que no dia 26/04/1953, em Porto Ferreira, neste Estado, os alunos executaram os 4º e o 5º saltos de paraquedas usando os automáticos, os elementos matriculados no Curso de Paraquedista da Força Pública, tendo dirigido os saltos, o Cap. Adauto Fernandes de Andrade.

          O entusiasmo aos poucos foi arrefecendo, faltando verbas para a compra de novos e modernos equipamentos mas, um ponto do seu roteiro glorioso, é bom que o leitor se delicie com o artigo abaixo, extraído do livro: Clarinadas da Tabatinguera, no qual é relatada a história do...

Capitão Djanir Caldas - duas loucuras
  A tragédia do avião President da Pan American

          Era o dia 29 de abril de 1952, quando o mais moderno avião de passageiros do mundo, da Pan American denominado President, sobrevoava de madrugada a selva amazônica, com 60 criaturas humanas, entre tripulantes e passageiros.
          Ali estavam brasileiros, norte-americanos, paraguaios, argentinos, homens e mulheres, adolescentes e crianças unidos pelo destino, para escreverem a mais trágica página que a aviação tinha registrado em plagas sul-americanas, até aquela data.
          Seriam 4 horas e tudo ia bem a bordo do quadrimotor. As comunicações com a torre procediam-se normalmente e, quando o rádio silenciou, foi para sempre, levando para a incomensurável profundeza da selva, dezenas de almas.

O "strato-cruiser" da Pan American - President

          Não havia dúvidas para as autoridades brasileiras e norte-americanas, que sobrevoaram o local, sul do Estado do Pará, de ser humanamente impossível haver sobreviventes, bem como ser impraticável o salto de paraquedas. Este pensamento foi, posteriormente, superado pela coragem de 14 paulistas, 7 da então Força Pública e 7 do Clube de Paraquedistas Civis.
          Cerca das 15h, do dia 7 de maio, um DC-3, da Aerovias Brasil, cedido pelo grande político Dr. Adhemar de Barros, levantou voo do Campo de Marte, deixando os ceus nublados de São Paulo, pousando em Porto Nacional, para a sublime missão. Comandava os paraquedistas da Força Pública, o Cap. Djanir Caldas, sendo sua missão apenas de oficial de ligação com as autoridades (havia oficiais superiores nossos e da Aeronáutica), no entanto, nesse dia 7, apresentou-se ao Cel. Ex. Ribamar de Miranda, seu Comandante e o diálogo se fez:

- Senhor Coronel, eu vou saltar com os meus soldados.
- O senhor é paraquedista capitão?
- Não senhor. Nunca vi um paraquedas.
- Então, o senhor não pode saltar.
- Senhor Coronel, não posso deixar que meus soldados saltem na floresta virgem e fiquem sozinhos, sem um oficial presente. Isso nunca aconteceu na história da Força Pública.
- Mas é uma temeridade Capitão Djanir, não posso e não devo dar essa permissão.
- Então, senhor Coronel, eu me licencio da Corporação e saltarei como civil voluntário e serei o único responsável pelo que me acontecer. Firmarei um documento nesse sentido.

          Este último argumento foi aceito pelo Cel. Ribamar, pois não foi possível demovê-lo de sua obstinada intenção.


          No dia 11, o DC-3 sobrevoou o local exato do salto, baixou a 300 metros, reduzindo a velocidade. Os paraquedistas expiaram pela janela e viram aquele oceano verde estender-se ao infinito e quase certo que tiveram medo. Treme carcaça...

Os paraquedistas civis 

          Talvez, naqueles segundos, tenham vindo à lembrança as estórias terríveis da Amazônia: índios bravios e antropófagos, feras descomunais, formigas gigantes, árvores e insetos carnívoros, areias movediças... mas, ali estavam, com as consciências voltadas com o dever a cumprir, e uma força inabalável os impulsionava para o salto naquele inferno verde - a força misteriosa da solidariedade humana.
          Djanir contou-me, na ocasião: "Que alguns soldados já haviam saltado e quando se abriu a porta do DC-3, para que eu saltasse, senti um vento forte no meu rosto, que ficou insensível, como se estivesse anestesiado. Num relance fiz o sinal da cruz, pensei carinhosamente em minha esposa, esperando nosso segundo filho, na minha filhinha querida e me projetei no espaço; toquei emocionado o chão paraense com alguns arranhões e a alma sôfrega. Em pouco tempo, reunimo-nos para o trabalho penoso de construir um heliponto. Fizemos mais, limpamos o terreno em grande extensão, o que permitiu também o pouso de aviões pequenos. Tudo isso, fizemos com nossos facões, nossos músculos e nossa força moral e espiritual".

Os paraquedistas militares

          A repercussão do feito heróico ultrapassou nossas fronteiras, os jornais americanos projetando o salto dos nossos 14 paraquedistas, destacando a loucura divina do Cap. Djanir Caldas, que recebeu, com todos os seus companheiros, as condecorações e medalhas, ressaltando a nobreza da solidariedade humana.
          O Governador do Estado, Lucas Nogueira Garcez, decretou a promoção de todos os militares ao posto imediato por ato de bravura. Rápida foi a promoção dos 7 praças paraquedistas, providência cumprida pelo Comandante Geral da Força Pública. Mas, a promoção de oficial era competência do governador.
          O processo demorou demais e, quando tudo estava nos conformes, o Governador era Jânio Quadros que, enfurecido pela projeção política do seu adversário Adhemar de Barros, ordenou a presença de Djanir em seu gabinete.
          Bem com a vida, despreocupado, Djanir rumou aos Campos Elíseos e, qual não foi sua surpresa desagradável quando Jânio, desvairado, com o dedo em riste, vociferou contra ele, em tom ameaçador. Djanir, imperturbável, quedou-se em silêncio, até que Jânio findasse aquele extenso palavreado estúpido e desenfreado.
          Calmo, com a postura espartana, revidou enfaticamente ao Governador:

          - Vossa Excelência não está me ofendendo. Vossa Excelência está ofendendo a minha Corporação, a farda honrada da Força Pública. Como oficial, não admito tal ofensa.

          Jânio, extravasando seu ódio, não o promoveu, desrespeitando o decreto do Governador Garcez, determinando, ao Comandante da Força Pública, que transferisse Djanir para o Batalhão mais distante da capital, como castigo.
          Outra loucura de Djanir: era ele o capitão mais antigo da Corporação e sua promoção, certamente, ao posto de major, se daria em agosto. Ele não cumpriu a ordem de transferência e, tão pouco, se ligou para o perigo de ser submetido a julgamento no Tribunal Militar, pelo crime de desobediência ao Governador e, quando um oficial superior, com escolta, chegou à sua residência, com ordem de conduzi-lo preso ao Quartel General, Djanir, com a maior calma do mundo, entregou-lhe um requerimento solicitando demissão das fileiras da Força Pública.
          Que personalidade fortíssima! Jogou fora quase 30 anos de serviço e os vencimentos de major e seria tenente coronel, com certeza, pelo decreto do ato de bravura. Quem teria coragem de tanta loucura?
           Tudo isso, fielmente relatado, foi depoimento seu, quando era elaborado o livro O Salto na Amazônia. Com tristeza, o autor soube de sua apertura financeira, a preocupação e o zelo com sua família, o abandono e o esquecimento de muitos amigos. Djanir empregou-se no Mackenzie, como professor de química, depois de vencer forte competição.
          Milagrosamente, o Dr. Adhemar de Barros foi eleito Governador para o quatriênio 1960-64 e, já conhecedor da grande injustiça de Jânio Quadros, determinou ao Comandante da Força Pública, que desarquivasse e lhe mandasse o processo referente a Djanir, pois sua intenção era promovê-lo, resgatando tamanha maldade.
          No entanto, a ordem não foi cumprida de imediato, precisava de autuação de vários documentos, revisão de datas, aquela burocracia tremenda! Passou o primeiro ano e nada, veio o segundo ano e nada feito, o processo evoluía somente de gaveta a gaveta, de gabinete a gabinete, de seção a seção e nada, a máquina emperrava, a burocracia era complicada demais e misteriosa (a bem da verdade é preciso que se diga, que houve negligência e, porque não afirmar, sabotagem de colegas, enciumados e invejosos...).
          No último ano de seu governo, Adhemar se desesperou, bateu duro na mesa, ordenando que lhe trouxessem o processo com urgência e, quando sua ordem estava sendo cumprida, em 2 de julho de 1966 ele, Adhemar de Barros, foi cassado politicamente pelo Presidente Castello Branco.
          Quando tudo parecia perdido, surgiu um anjo da guarda, acidentalmente; Djanir encontrou-se com o Dr. Paulo Pestana, Delegado de Classe Especial da Polícia Civil, seu grande amigo e admirador, na época Secretário de Turismo do Estado que, conhecedor de tantas injustiças sofridas pelo heróico e louco "paraquedista", contou ao Governador Roberto de Abreu Sodré toda essa história novelesca.
          Emocionado, Sodré, depois de legalizado todo o processo, promoveu Djanir a tenente coronel em 1967, 15 anos depois da tragédia do avião President.
          Agora, com os vencimentos de tenente coronel, ele pode dar o conforto pleno à família, mas não deixou o Mackenzie, continuou trabalhando e, mercê de sua capacidade de trabalho, inteligência e cultura, aliados aos valores éticos, galgou postos de chefia naquela famosa universidade.
          Mas, um fato novo deveria acontecer, para encher de alegria e orgulho toda a família e seus leais amigos. O livro histórico O Salto na Amazônia caiu nas mãos de um jovem e talentoso advogado, o Dr. D'Asti de Lima, que o anexou a um processo, reivindicando a promoção por ato de bravura, como havia decretado o governo Garcez, em 1952.
          A ação judicial do Dr. D'Asti foi vitoriosa, promovendo Djanir a coronel, em 1991, sendo então cumprido aquele decreto estadual de 1952, apenas... 39 anos depois!!!

         Nota 1: as imagens reproduzidas neste post atestam o dever bem cumprido dos paraquedistas de São Paulo, que na ocasião foram considerados loucos mas, na verdade, foram, pensamos nós, os precursores do PARASAR, organismo de elite, composto de paraquedistas da Força Aérea Brasileira, que tem cumprido sua missão nos mais distantes pontos do território nacional, colaborando em calamidade de outros países, vivendo páginas de glórias onde quer que haja uma vida a salvar!

            Nota 2: O Campo de Marte pertenceu, em toda a sua extensão, à então Força Pública, onde eram realizados, como já vimos, os treinamentos e desfiles da tropa. Com o correr dos anos, ele fragmentou-se, aquartelando, nos dias atuais, o Parque da Aeronáutica da FAB, Escolas de Aviação, de helicópteros, inclusive a da Polícia Civil, de Paraquedista e outras Repartições do Estado. Aquartela também o Grupamento Aéreo da PM, com seis aviões e 25 helicópteros, os Águias, o cartão de visita da Corporação. É a sexta etapa da presença nossa no histórico Campo. E temos a certeza de que o Grupamento veio para ficar.