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sábado, 24 de março de 2012

O caráter Paulista

Derrotado o movimento liberal - Revolução de 1842 - o padre Feijó, já muito doente, foi detido por Caxias em Sorocaba.

Rafael Tobias de Aguiar viu-se abandonado das forças rebeldes, que desapareceram como por encanto. Deu-se em Sorocaba o mesmo que aconteceu em Itu, Capivari, Porto Feliz e Itapetininga. Ao passo que desapareciam os revolucionários, chegavam os influentes do partido legalista, que até então se achavam foragidos. Pretendeu ainda Rafael Tobias de Aguiar reunir a tropa dispersa na Fábrica de Ferro Ipanema, mas não teve outro recurso, senão a fuga, quando soube que Caxias se aproximava e já havia destacado força para efetuar sua prisão.

Alguns dias permaneceu na vizinhança de Sorocaba e depois, em marchas forçadas, resolveu procurar a Província do Rio Grande do Sul. A marcha não podia, porém, ser como ele desejava, porquanto era de perto seguido pela escolta enviada para prendê-lo, guiada por pessoas conhecedoras da zona, e que, como sói acontecer em tais ocasiões, se apresentaram para auxiliar o inimigo de ontem.

Com grande dificuldade conseguiu chegar a Itapetininga, onde se demorou, julgando estar livre de seus perseguidores, entretanto, avisado de que sua presença ali se havia divulgado, deixou a cidade em direção da Fazenda Bom Retiro, de propriedade de Joaquim José de Oliveira, que na ocasião se encontrava ausente. Sua esposa porém, recebeu o ilustre foragido, dispensando-lhe fidalga hospitalidade.

Alta noite, os escravos vieram prevenir a esposa de Joaquim José de Oliveira que a fazenda estava cercada por soldados. Imediatamente a distinta dama paulista ordenou ao capataz, de nome Agostinho, que se encarregasse de proteger e impedir, por todos os meios, a prisão do ilustre hóspede.

Agostinho, depois de verificar que todos os pastos ao redor da fazenda estavam cercados por tropas de Caxias, escondeu-se com Rafael Tobias no engenho de cana, debaixo de uma queda d'água que alimentava a moenda.

Nesse ponto haviam crescido plantas aquáticas que caíam em festões emaranhados, tão densas que serviram para ocultar Agostinho e o ilustre político.

Diversas vezes os soldados imperiais passaram junto ao engenho, esquadrinhando todo o terreno, subindo aos telhados, aos forros e só se retirando depois de horas e horas de busca inútil.

Um fato deve ser aqui consignado: Joaquim José de Oliveira um dos ricos proprietários daquela zona possuía mais de 200 escravos, que sabiam que ali se achava oculto um homem, entretanto não denunciaram sua presença apesar das inquirições ameaçadoras dos homens da escolta.

Quando o dono da fazenda voltou e teve conhecimento do que sua esposa praticara, aplaudiu o seu procedimento. O curioso era que Joaquim José de Oliveira pertencia à corrente política contrária a Rafael Tobias de Aguiar, adversário portanto do chefe foragido. Eis um traço do caráter paulista.

Retirando-se a escolta, foi Tobias conduzido por vaqueanos da fazenda para lugares bem seguros, até que depois de passados muitos dias e muitas dificuldades, seguiu marcha à procura das fronteiras do Sul, atravessando extensas regiões que hoje constituem o território do Estado do Paraná, na época a 5ª Comarca de São Paulo.

Vencendo numerosos obstáculos, meses depois, Rafael Tobias atravessava os campos de Vacaria, quando foi aprisionado por Caxias que, depois de ter pacificado São Paulo e Minas, havia seguido no comando das forças legais que combatiam os rebeldes gaúchos.

Neste interessante relato, extraído do livro de Aureliano Leite, merecem ser sublinhados dois trechos que não podemos esquecer. O primeiro mostra a toda luz o cavalheirismo dos paulistas desse tempo. Tobias escondeu-se na fazenda de um seu adversário, ali encontrando fidalga hospitalidade.

O segundo trecho destaca Tobias como um valente, pois ele não fugiu por fugir, para escapar a um perigo.

Empreendeu uma retirada, já que a luta estava perdida em São Paulo, para ligar-se aos revolucionários do Rio Grande do Sul. O grande paulista tinha intenção de voltar para continuar a luta do partido Liberal.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar - criador da Polícia Militar



O Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, além de político e militar, era também rico fazendeiro em Sorocaba. A ele se deve a criação daqueles vistosos cavalos, pelagem de duas cores, conhecidos como pampas.
Quando de sua retirada para o Rio Grande do Sul, no remate doloroso da Revolução Liberal de Sorocaba, em 1842, presenteou certo fazendeiro gaúcho de Cruz Alta com alguns desses cavalos, que se reproduziram e espalharam até o Rio do Prata, formando uma raça cavalar que tomou o nome do criador sorocabano - Raça Tobiana.


A retirada do chefe revoltoso ficou registrada no ponteado das violas dos cantadores:

"O nosso Rafael Tobias,
Querendo se escapá
Passou por Campo Largo
De chilena e cherripá
Tobias quando fugiu
Na hora de incerteza,
Abraçou os seus filhinhos
E casou com a Marquesa"

Da união do Brigadeiro Tobias com a Marquesa de Santos nasceram:

- Rafael Tobias de Aguiar
- João Tobias de Aguiar e Castro
- Antônio Francisco de Aguiar e Castro
- Brasílio de Aguiar e Castro
- Gertrudes de Aguiar e Castro e
- Heitor de Aguiar e Castro.

Maria Domitila de Castro Canto e Melo - a Marquesa de Santos - tem seu túmulo no cemitério da Consolação ao lado da Capela Central.

"Servir São Paulo é, sobretudo, antes de tudo e acima de tudo, servir ao Brasil!' Este era o lema do Brigadeiro Tobias que, ao morrer, a 7 de outubro de 1857, a bordo do vapor Piratininga, quando, na qualidade de parlamentar, se dirigia à Corte Imperial, despedindo-se de seus entes queridos, assim se expressou:

"Meus filhos, continuem por mim a
não poupar sacrifícios por São Paulo".

Seus restos mortais jazem na Igreja da Ordem 3ª, ao lado da Faculdade de Direito Largo São Francisco.