Minha turma de Aspirante à Oficial foi a primeira a se formar na atual Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em 1944. Os primeiros anos, foram no Centro de Instrução Militar (CIM), situado na Avenida Tiradentes, esquina com a Rua Ribeiro de Lima, vetusto e acanhado prédio ao lado da antiga Casa de Detenção de São Paulo, depois Banespa, Caixa Econômica e hoje Banco do Brasil.
Éramos 38 formandos no começo da lida, e hoje somos apenas 4, entre estes, o meu amigo Cel. João Áureo Campanhã, pois, muitos de nossos colegas, ficaram à beira do caminho, seguiram outros destinos e a grande maioria já ultrapassou o Portal da Eternidade, como dizem Boldrim e
Datena: "Apressados esses amigos subiram ao andar de cima".
Datena: "Apressados esses amigos subiram ao andar de cima".
É bom ressaltar que três maravilhosos colegas morreram tragicamente:
Benedito Neto: paulista de São Simão que, numa ocorrência policial, caiu fulminado com uma bala no crânio;
Waldir Alves de Siqueira, capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, morto covardemente por um bandido, cinco tiros à queima roupa; e
José da Silva Bueno, paulistano da Pompeia, pescador de alto-mar, desapareceu misteriosamente do barco. Eram cinco horas, Bueno, timoneiro, passou a direção a um companheiro indo para o descanso, antes porém, prometeu fazer um cafezinho para todos. As xícaras permaneceram no tombadilho e horas e horas se passaram... Alarme geral, os pescadores levantaram suas redes, bombeiros em ação, helicópteros nos céus, vasculhando o mar e mais horas e horas se passaram, horas de agonia. Nada, nada na região dos Alcatrazes.
O que teria acontecido? Um ET o teria abduzido para Marte ou outro planeta? Ao lavar as xícaras no tombadilho do barco, teria caído ao mar e devorado por tubarões? As correntes marítimas teriam levado Bueno para longe, talvez para África? Ou uma sereia apaixonada o teria raptado, carregando-o para as profundezas dos mares?
Minha escrita agora é sobre o João Áureo Campanhã e com ele dois episódios, duas estórias que orgulham e enobrecem a figura humana.
Dezembro de 1944!!!, aquele açodamento para sabermos quais os três primeiros classificados da turma, uma vez que esses eleitos receberiam, além de elogios, honrarias e prêmios.
Solenemente, nosso Capitão Otávio Gomes de Oliveira (militar de excelsas virtudes), em frente à Cia, fez a leitura dos premiados, ressaltando os pontos de cada um:
Suspense!!! A Secretaria, a toque de caixa, revendo toda a documentação dos três jovens aspirantes, chegou à conclusão que, de fato, Campanhã estava certo, certíssimo.
É necessário que se diga que o nosso amigo Campanhã era minucioso em seus apontamentos, amigo dos detalhes, anotando tudo, tudo, as notas de exames, sabatinas, chamadas orais, pontos ganhos, pontos perdidos...essa figura altaneira assombrou seus superiores e colegas pela grandeza de sua alma, abdicando do primeiro lugar. Enfaticamente ele declarou: Meu lugar é o terceiro e não o primeiro.
Não bastasse esse fato existe, ainda mais um outro, que é uma aula de civismo, coragem e altruísmo. Vejamos:
Os anos passaram, estamos agora em 1967, Governador do Estado Dr. Laudo Natel, sendo seu Secretário de Estado da Casa Militar, o nosso valente Coronel João Áureo Campanhã.
Atendendo aos apelos de todas as Associações de Classe da Polícia Militar, Campanhã prometeu lutar pelas nossas reivindicações, sendo o fiel da balança de nossos problemas, principalmente o aumento de vencimentos, já que governos anteriores não nos tinham atendido, esquecendo do alto valor da tropa bandeirante, obreira da segurança da sociedade paulista.
O nosso pedido era justo, queríamos apenas a reposição da inflação, na época em torno de 32%.
Laudo Natel negou. O brioso Coronel Campanhã, num gesto temeroso mas digno, pediu demissão da alta investidura de Chefe da Casa Militar. Apelos surgiram de todos os lados, aconselhando-o a renuncia de seu ato, mas todos eles não surtiram efeito, pois sua decisão era inabalável, irrevogável.
O Comandante Geral da Força Pública, o Coronel João Batista de Oliveira Figueireido, o "órfão de pai vivo", considerou grave falta disciplinar e Campanhã foi preso por 25 dias, recolhido ao Quartel do 5º Batalhão de Taubaté. Diga-se, de passagem, que o Governador Laudo Natel visitou seu amigo em Taubaté por duas vezes.
Meus amigos, estamos diante de dois fatos que revelam o valor do homem, o Homem de H maiúsculo, pleno de virtudes, homem simples do interior paulista (Jaboticabal), exemplo de coragem, escravo de ideais nobres.
Campanhã, um abraço de seu amigo e admirador, coronel Edilberto.
Minha escrita agora é sobre o João Áureo Campanhã e com ele dois episódios, duas estórias que orgulham e enobrecem a figura humana.
Dezembro de 1944!!!, aquele açodamento para sabermos quais os três primeiros classificados da turma, uma vez que esses eleitos receberiam, além de elogios, honrarias e prêmios.
Solenemente, nosso Capitão Otávio Gomes de Oliveira (militar de excelsas virtudes), em frente à Cia, fez a leitura dos premiados, ressaltando os pontos de cada um:
1º) Aspirante a Oficial João Áureo Campanhã;
2º) Aspirante a Oficial Ari José Mercadante; e
3º) Aspirante a Oficial Urbano Lopes Fonseca.
Com aquela nobreza de espírito, escravo de sua consciência, João Áureo Campanhã informou ao Capitão Otávio que havia um engano nessa classificação, pois, pelos seus cálculos, somadas todas as anotações durante o Curso, o primeiro lugar não lhe caberia.Suspense!!! A Secretaria, a toque de caixa, revendo toda a documentação dos três jovens aspirantes, chegou à conclusão que, de fato, Campanhã estava certo, certíssimo.
É necessário que se diga que o nosso amigo Campanhã era minucioso em seus apontamentos, amigo dos detalhes, anotando tudo, tudo, as notas de exames, sabatinas, chamadas orais, pontos ganhos, pontos perdidos...essa figura altaneira assombrou seus superiores e colegas pela grandeza de sua alma, abdicando do primeiro lugar. Enfaticamente ele declarou: Meu lugar é o terceiro e não o primeiro.
Não bastasse esse fato existe, ainda mais um outro, que é uma aula de civismo, coragem e altruísmo. Vejamos:
Os anos passaram, estamos agora em 1967, Governador do Estado Dr. Laudo Natel, sendo seu Secretário de Estado da Casa Militar, o nosso valente Coronel João Áureo Campanhã.
Atendendo aos apelos de todas as Associações de Classe da Polícia Militar, Campanhã prometeu lutar pelas nossas reivindicações, sendo o fiel da balança de nossos problemas, principalmente o aumento de vencimentos, já que governos anteriores não nos tinham atendido, esquecendo do alto valor da tropa bandeirante, obreira da segurança da sociedade paulista.
O nosso pedido era justo, queríamos apenas a reposição da inflação, na época em torno de 32%.
Laudo Natel negou. O brioso Coronel Campanhã, num gesto temeroso mas digno, pediu demissão da alta investidura de Chefe da Casa Militar. Apelos surgiram de todos os lados, aconselhando-o a renuncia de seu ato, mas todos eles não surtiram efeito, pois sua decisão era inabalável, irrevogável.
O Comandante Geral da Força Pública, o Coronel João Batista de Oliveira Figueireido, o "órfão de pai vivo", considerou grave falta disciplinar e Campanhã foi preso por 25 dias, recolhido ao Quartel do 5º Batalhão de Taubaté. Diga-se, de passagem, que o Governador Laudo Natel visitou seu amigo em Taubaté por duas vezes.
Meus amigos, estamos diante de dois fatos que revelam o valor do homem, o Homem de H maiúsculo, pleno de virtudes, homem simples do interior paulista (Jaboticabal), exemplo de coragem, escravo de ideais nobres.
Campanhã, um abraço de seu amigo e admirador, coronel Edilberto.