CAPITÃO HELIO LOURENÇO CAMILLI
“Nós, muitas vezes, não entendemos os
desígnios de Deus, mas bendito seja Deus”.
Estivemos, há poucos dias, no sepultamento do nosso amigo Helio Lourenço Camilli, no Campo Santo da Quarta Parada, onde carros do Corpo de Bombeiros, dezenas de veículos oficiais e outras tantas viaturas particulares atravancavam todo o pátio daquele chão sagrado, em meio a ondas e ondas de homens, mulheres e jovens, que se acotovelavam para chegar ao ilustre varão, agora no sono eterno, para a despedida, o último adeus.
Dois jovens coroneis, Hudson e Helson, expoentes da nossa Polícia Militar, velavam o amigo de todas as horas. Cumprimentei-os com as minhas sentidas condolências, ressaltando a dedicação e amor de ambos, ao querido pai, em toda a vida, nas horas tristes e alegres, principalmente nesses últimos meses, até que o jequitibá tombasse e fechasse os olhos para sempre, combalido de tantas emoções e sofrimentos. É certo que, escoltado pelos anjos e arcanjos, o Capitão Helio já habita a Casa do Pai, repousando numa de suas galáxias.
Sentei-me ao lado do ilustre morto e, por algum tempo, pensando na beleza da vida e na beleza da morte, reflexões voaram à minha mente e numa delas, em delicada e velada censura, falei ao amigo: Helio, não era a sua vez da promoção à Eternidade, você é cristão, católico praticante, você merece mas era minha essa promoção aos meus 92 janeiros. Você, apressado, não cumpriu o combinado e voou para o andar de cima (plágio nesta expressão). Helio, com todo o respeito que você sempre mereceu, vou falar baixinho ao seu ouvido, numa linguagem nossa, franca e castrense, você me deu cangalha!
Ainda jovem, vindo da bela cidade de Jaú, o destino de Helio Lourenço Camilli foi a Guarda Civil de São Paulo, para qual dedicou toda a sua mocidade, abnegação ao serviço árduo, ajudando a proteger a gente bandeirante, enfrentando as intempéries do tempo e as frias madrugadas da Pauliceia Desvairada.
Apaixonado pelas motocicletas, formou e comandou o pelotão de 50 “Harlley Davidson”, empregando-as na segurança das ruas, antecipando as pujantes motos da Rocam de hoje. Numa fase heróica, como Classe Distinta, Helio foi nomeado Auxiliar de alta autoridade federal, que presidia o escritório de pesquisas atômicas na capital.
Dedicou-se o nosso amigo Helio, em suas horas de folga, a prestar seus excelentes serviços à Associação Desportiva da Guarda Civil, a qual com a fusão das duas Corporações- GC e FP- se tornou um dos melhores Clubes da capital paulista. Durante décadas foi Diretor de Relações Públicas, Social e de Cultura, sendo responsável pelas maravilhosas festas, inúmeras competições de modalidades esportivas, formaturas, noites havaianas, italianas e árabes, também forrós, presidindo, com muita elegância, noites de sambas, valsas, boleros e tangos, não deixando também de presidir outras tantas manifestações de alegria, como concursos de beleza e desfiles de modas, que marcaram época na história da ADPM de seu tempo.
Na Polícia Militar, a partir de março de 1970, foi classificado no Quartel General, servindo exemplarmente como Secretário de vários Comandantes Gerais, dos quais recebeu inúmeros elogios, conquistando suas amizades.
Bendita fusão das duas Corporações, das quais a PM herdou suas virtudes. Graças a essa fusão, quantos amigos conquistamos, excelentes amigos, entre as quais a figura impoluta de Helio Lourenço Camilli. Não fosse ela, certamente nós não estaríamos aqui, neste templo cristão do Centurião Santo Expedito, para essa sagrada missa pela alma de Helio Camilli, o valente e virtuoso Capitão.
Na Associação dos Oficiais da Reserva e Reformado, Helio foi Diretor de Relações Públicas em vários mandatos, empregando todos os seus conhecimentos trazidos da ADPM, inundando de luz romance e poesia, com sua figura carismática, o Solar da Tabatinguera, o nosso último Quartel. Foi também Diretor do Clube da Ativa, na Diretoria presidida pelo saudoso Cel. Delfim Cerqueira Neves.
Helio Lourenço era um seresteiro, um poeta, um romântico! Cultor das músicas do seu tempo ou melhor, do nosso tempo, cantava-as, dedilhando no seu violão, do qual era mestre, as inesquecíveis composições de Orlando Silva, Francisco Alves, Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Gastão Formenti, Vicente Celestino, Carlos Gardel e tantos outros, não esquecendo as canções sertanejas que valorizaram seu repertório.
Bom amigo Helio você foi um iluminado nessa vida! Grande empresário, homem de visão, pragmático, inteligente e culto, você, num passe de mágica, transformou um modesto projeto de amigos na maior Cooperativa do planeta.
Seus filhos e netos, enfim, todos da família sentirão muita sua ausência, tenho certeza que rezarão sempre para o conforto de sua alma. Seus incontáveis amigos também. Descanse em paz virtuoso Capitão!