Na Revolução de 1924, no combate dos revolucionários para a conquista do Morro do Cambuci, defendido pelo legalista Coronel Pedro Dias de Campos, houve muitas mortes e feridos e, para socorrê-los, elementos da Cruz Vermelha brasileira. Logo que encerraram os seus trabalhos, abandonaram o sítio, depois de localizarem detidamente o Posto de Comando do Coronel, que segundos depois foi intensamente bombardeados.
O grande comandante, já desconfiado antes, agora teve a certeza de que a Cruz Vermelha espionava para os revoltosos de Miguel Costa e Cabanas.
Ferido levemente, ele observou a sua frente uma senhora e sua filhinha, esta vestida de azul. Naquele momento, Pedro Dias de Campos fez um juramento: neste morro construirei um hospital para as famílias dos meus soldados, que se chamará CRUZ AZUL, inspirado na cor do vestido da menina órfã. Construirei também uma escola para os filhos dos meus combatentes.
O sonho de Pedro Dias foi concretizado o Hospital da Cruz e o nosso esplêndido Colégio da Polícia Militar.
Finda a Revolução, o Coronel Pedro Dias de Campos lançou mão de todos os recursos para concretização do seu sonho. Eventos sociais, como reuniões dançantes, jogos, quermesses, rifas, demonstrações de esgrimas, etc, arrecadavam fundos para as duas meritórias obras. Até um Jazz Band foi criado para, tocando Fox ou Fox Trote, alucinantes músicas da época, pelo interior afora, para a nobre missão.
Era a “Belle Epoque”, do vestido godê, da palheta, dos bondes de 100 réis, das varandas e dos Coronéis.
Tudo...tudo era lucro. A mão de obra era tirada dos quartéis, todos os Batalhões selecionando os seus carpinteiros, pedreiros, eletricistas, treinando os muares para as caçambas, etc.
Mas o Comandante Pedro Dias de Campos, com toda a sua criatividade, organizou, em fins de 1925 uma festa no Campo de Marte que deu o que falar. Na festa, a aviadora francesa Janette Caillé executaria um salto de pára-quedas como parte das atividades.
O preço da entrada era 5 mil réis e todo campo ficou lotado para ver os audaciosos malabarismos da aviadora, inéditos em São Paulo. Entre os presentes estavam o Presidente do Estado, Dr. Washington Luiz, todo o seu Secretariado e um enorme público, mas, na última hora, a aviadora adoeceu e mandou avisar o Coronel Pedro Dias que não poderia saltar.
Diante do imprevisto e não podendo desapontar o público, o genial comandante reuniu todos os aviadores, oficiais da Força Pública, solicitando um voluntário para saltar.
Os 15 aviadores empalideceram, quedaram-se mudos, não apareceu nenhum voluntário, então Coronel “escolheu” um voluntário, apontando o Tenente Antonio Pereira Lima.
Sem poder contestar, o tenente, em poucos minutos, sentiu os outros aviadores, “mui amigos”, colocarem os pára-quedas nas suas costas e amarrarem os tirantes. Aliviados, seus colegas davam-lhe tapinhas nas costas dizendo: “não tenha medo Pereira Lima, não é nada, é fácil”.
Muito nervoso, Pereira Lima não percebia a tremedeira dos outros, que tinham medo que o coronel mudasse de idéia e escolhesse um deles para a arriscada missão.
Rapidamente, o improvisado pára-quedista foi jogado dentro do avião, pilotado pelo instrutor americano Horton Hoover. Quando o avião já tinha ganho altura suficiente, o piloto fez sinal para o salto. O tenente meio tonto andou pela asa do avião e ia saltar, mas aí... cadê a coragem. Agarrou-se com toda força numa barra de ferro que ligava os dois planos de asa e gritou ao americano: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Vendo que o tenente não tinha coragem realmente de saltar, o experiente instrutor executou um “looping”, projetando-o para fora do avião. Por uns instantes o pára-quedista perdeu a noção das coisas, desmaiou, até que uma grande sacudida e uma dor muito forte em seus membros o acordaram. Seus colegas, no desespero de se livrarem da missão, haviam colocado, erradamente, uma tira de couro, que, na abertura do pára-quedas prensou sua genitália.
A dor se tornou insuportável, fazendo-o perder os sentidos; todo desajeitado, com as pernas abertas, caiu sobre um automóvel de chapa branca, a sorte é que a capota era de lona e amorteceu a queda.
Foi o tenente Pereira Lima carregado em triunfo pelos seus colegas, até as autoridades que o saudaram como herói, ganhando muitos abraços e cumprimentos. Quando achava que o pesadelo tinha terminado, o coronel Pedro Dias olhou feio e disse:
“Tenente, o senhor saltou de pernas abertas”! Deveria saltar na posição de sentido! Ah! E tem outra coisa, o senhor vai pagar o conserto da capota do meu carro, OUVIU?!