Em situação de abandono completo, o velho Quartel do Glicério, também conhecido como da Tabatinguera, no Parque D. Pedro II, que abrigou o 2.º Batalhão de Guardas do Exército, deve ser restaurado. Ao menos, esse é o desejo de um grupo de militares da Reserva, que lançaram, uma campanha para tentar salvar o edifício histórico, cuja construção data do século XVIII.
Louvável a intenção desse grupo de militares, que fizeram um ato cívico em frente ao velho casarão, lançando a campanha para restaurar o edifício histórico, que abrigou Unidades de Elite do Segundo Exército, hoje Comando Militar do Sudeste.
O Militar da Reserva ou Reformado é, antes de tudo, um saudosista, pois ama tudo o que se relaciona com as coisas castrenses. Ele tem saudades da caserna, dos desfiles, das manobras militares, dos dobrados das bandas de música. É nostálgico, lembra constantemente do seu quartel, dos velhos comandantes, dos seus companheiros de ideal. Sendo louvável, pois, sob todos os títulos, a reunião dos militares Cara-de-Leão que estão procurando sensibilizar o povo de São Paulo para que o quartel tenha aquela imponência do passado.
O 2.º Batalhão de Guardas do Exército foi a última Unidade a ocupar o vetusto quartel, construído de taipa pilão, socada com a força dos pés dos escravos, que dançavam ao som de batuque sobre argilas, amassando, com o barro, pedras e vegetais, erguendo as largas paredes.
Foi construído na segunda metade do século XVIII, tendo as seguintes denominações:
1765 – Chácara do Fontoura
1852 – Convento Irmãos Duarte
1855 – Cônego do Monte Carmelo
1859 – Governo Provincial
1860 – Seminário de Educandos
1861 – Seminário de Educandas
1862 – Hospício de Alienados
1896 – Quartel da Guarda Cívica da Força Pública
1930 – Quartel do 6.º e 7.º Batalhões de Caçadores da FP
1932 – Ocupado pelo Exército
1964 – 7.ª Cia de Guardas
1970 – 2.º Batalhão de Guardas
1996 – 3.º Batalhão de Choque da Polícia Militar
Tombado pelo CONDEPHAT, não se pode mexer, adulterar sua arquitetura. Os tempos passaram, o prédio envelheceu muito e não há verbas para a sua manutenção. É uma pena!
Em fins do século XIX, ele foi sede dos 1.º e 2.º Corpos da Guarda Cívica, Unidades de escol da antiga Força Pública, encarregada da segurança da Capital e Interior, protegendo uma população que aumentava assustadoramente pelos imigrantes, atraídos pelo advento do ouro verde, os grandes cafezais.
Em 1925, os dois Corpos da Guarda Cívica se transformaram no 6.º e 7.º Batalhões de Caçadores, efetivos da Brigada Militar, formada pelo Cel. Pedro Dias de Campos, em perseguição à Coluna Revolucionária, comandada pelo Gen. Miguel Costa, erroneamente denominada Coluna Prestes. Em consequência, todo o acervo e oficiais instrutores da extinta Guarda Cívica, inclusive o Comandante Cel. Alexandre Gama, foram transferidos para a Guarda Civil, fundada a 22 de outubro de 1926.
Em 1932, com a derrota de São Paulo na Revolução Constitucionalista, frente a Getúlio Vargas, o casarão do Glicério e todas as edículas foram uma das presas de guerra, aquartelando então Unidades do Exército.
Mais duas presas de guerra foram o Campo de Marte – até hoje ocupada uma área pelo Parque de Aeronáutica. A terceira presa foi o Quartel da Força Pública, em Itapetininga, sediando Unidades do Exército durante muito tempo. Foi devolvido pelo Governo Federal, sendo hoje a sede do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado.
Em 1990, acordados a União e o Estado, o quartel do Glicério foi devolvido, nele se aquartelando o nosso 3.º Batalhão de Choque mas, passados 10 anos, a PM, sem recursos para a manutenção altamente dispendiosa, sem ajuda do CONDEPHAT, transferiu aquela OPM para novo quartel, mantendo na velha sede apenas uma guarda para evitar depredações e ocupações dos homens sem teto, que algumas vezes já tentaram invadí-lo.
Qual será o destino desse velho Monumento de Taipa? Oxalá os saudosos reservistas Cara-de-Leão consigam a realização do sonho, altamente nobre. Milagres acontecem!!!
Parece-nos que o milagre está começando, neste ano de 2014, pois é interesse do Governo do Estado instalar no Quartel do Glicério o Museu da Polícia Militar, tendo já uma comissão de estudos para restaurá-lo, possibilitando o restabelecimento da integridade física dessa relíquia histórica, recuperando a reaqualificação de toda a região, devolvendo a vida e a funcionalidade, quase sempre esquecida e desvalorizada, no coração de São Paulo.