"Quando se sente bater
No peito heróica pancada
Deixa-se a folha dobrada
Enquanto se vai morrer".
Esses versos pertencem a um poema, da lavra do poeta Tobias Barreto, homenageando a libertação de Montevidéu, sendo adotados, na Revolução Constitucionalista de 1932, como uma Bandeira, incentivando a mocidade paulista, principalmente a classe acadêmica, a suspenderem os seus estudos e acorrerem ao chamamento da alma bandeirante, para defesa de um ideal, que era o retorno da Lei, violada, desde 1930, pelo ditador Getúlio Vargas.
Grande número de estudantes das Arcadas morreram pela causa paulista e aqueles versos guerreiros, do vate pernambucano, são o estribilho do vibrante hino do Centro Acadêmico “11 de Agosto”, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Muitos livros históricos reproduziram esses versos e, em monumentos e estátuas, erigidos no sagrado chão paulista, eles surgem, esculpidos muitas vezes em bronze, reverenciando a saga bandeirante e imortalizando os heróis, que tombaram em holocausto à Causa Constitucionalista.
Minha intenção é relacionar esses versos guerreiros com uma cidade, santuário ecológico, onde foi aberto o primeiro poço de petróleo na América do Sul, conhecida também como a Terra do Gigante que Dorme. Essa terra é pequena, mas encantadoramente bela.
Quando os mascates, no passado, com os seus carroções, puxados a mulas ou burros, desciam a Serra de Botucatu, por caminhos ou trilhas, levando, nos seus baús e canastras, uma infinidade de mercadorias, objetos e coisas, carentes no vasto interior de São Paulo, como sal, açúcar, tecidos, linhas, botões, agulhas, carretéis, espelhos, pó de arroz, águas de cheiro, pólvora, espingardas, garruchas, armas brancas, arreios, rédeas e freios, material de pesca, sementes, etc, etc, etc, para a venda ou trocas, normalmente eles estacionavam, para as refeições, num lugarejo ou patrimônio chamado Samambaia, à beira de um rio muito piscoso, conhecido como o Rio do Peixe.
Com o advento da República, Samambaia, já cidade, mudou o nome para Rio Bonito, conservando-o até 1923, quando, num terceiro batismo, chamou-se Bofete, nome oriundo da palavra buffet, que era um armário repleto de alimentos, enfim um guarda comidas, mas na época era chique os mascates falarem: “vamos abrir o buffet às margens daquele rio cheio de peixes”.
Natureza exuberante, Bofete é considerada cidade ecológica e o orgulho de seus filhos se detêm no fato histórico, narrado por Monteiro Lobato, em um de seus livros sobre o ouro negro, afirmando que foi no município de Bofete aberto o primeiro poço de petróleo na América do Sul.
Vamos esclarecer: em 1894, Eugênio Ferreira, filho de rico fazendeiro da terra, formou-se engenheiro no Texas, Estados Unidos, época em que os ricos fazendeiros vendiam todo o gado, empregando os seus milhões de dólares em poços de petróleo, que afloravam na terra. Os poços se multiplicavam assustadoramente, porque a motorização vinha a galope, substituindo as máquinas a vapor, sendo início do milagre econômico da terra do tio Sam.
Eugênio Ferreira não teve dúvidas! Na fazenda de seu pai, abriria os poços e ganharia milhões de contos de réis. Comprou, então, brocas e todo o material para prospecção do petróleo e embarcou para o Brasil, com o canudo de Dr. Engenheiro, e com aquele grande sonho, aquela ilusão sem medidas, de iniciar em Bofete o milagre tupiniquim.
Depois de um ano, quatrocentos metros foram perfurados e nesse ponto a broca se quebrou. Ele não desanimou e, com um intérprete conterrâneo, de origem alemã chamado Teófilo Prat (dois de seus bisnetos fizeram carreira em nossa PM, devendo ser Oficiais da nossa Reserva), Eugênio Ferreira rumou para a Alemanha, comprando novamente todos os equipamentos de perfuração, continuando os trabalhos, em busca daquele sonho, mas a broca ao atingir 800 metros, também se quebrou, quebrando toda a fortuna do seu pai. Não jorrou petróleo, apenas água sulfurosa, cheiro forte de enxofre, que dizem ser ótimo remédio para problemas de fígado e estômago. Mas tudo o que aconteceu não tira a glória de ser Bofete, onde foi aberto o primeiro poço de petróleo da América do Sul, como escreveu o grande escritor Monteiro Lobato.
Como escrevi acima, nessa terra encantadora existe um gigante que dorme. Nos contrafortes na Serra de Botucatu, três morros se destacam, formando, no conjunto topográfico, uma figura enorme, com cabeça, tronco e membros; o perfil de seu rosto, pescoço, sua barriga, pernas e pés configuram uma enorme figura humana, conhecida Bofete como a terra do gigante que dorme. Como a natureza é caprichosa!
Acontece que na minha infância, esse gigante me amedrontava. Era a voz do povo, e eu acreditava, que em todas as madrugadas ele vinha beber água e roubar galinhas nos quintais para seu banquete, naquelas quebradas da serra. A infância sempre povoada de anjos e fadas, mas também de bruxas e bruxos.
Cresci, conheci o mundo, deslumbrei-me, mas nunca esqueci do gigante que, ao longo do tempo tornou-se meu amigo. Cantei loas àquela figura, reverenciando um bandeirante em descanso, dialoguei com os Deuses agradeci a Eles tamanha beleza, dádivas dos céus à minha encantadora Bofete, onde nasci e onde quero para minha morada.
Desculpem-me todo o exagero, neste excesso de amor! Nesta minha querida cidade, no Campo Santo, um conjunto fechado, segurança máxima, silêncio absoluto, principalmente à noite; existe uma Capela e, numa de suas paredes, na parte externa, reproduzi aqueles versos de Tobias Barreto. Na outra parede, vis-à-vis com o Gigante, escrevi minha mensagem, início de uma prosa para toda a Eternidade:
"Meu Gigante, meu grande amigo, conta-me as tuas andanças pelas galáxias do Céu e eu te contarei as minhas venturas e desventuras neste mundo de Deus".
Ia me esquecendo que, encimando a Capela, o nosso padroeiro Santo Expedito, como Sentinela do Altíssimo.