A fábula de La Fontaine, A Cigarra e a Formiga. É lógico que todos os leitores sabem da estória, principalmente do seu fundo moral, que enaltece o trabalho e desdenha a ociosidade.
Mas esta estória, da Cigarra e da Formiga, será contada às avessas, menosprezando, chutando o conteúdo moral, o ensinamento ou a mensagem:
“A Formiga trabalhou, trabalhou, trabalhou nas três estações do ano, armazenando na sua “casinha” todos os alimentos para passar o inverno rigoroso. Estava feliz, confortável, arrumando todas as coisa do lar, quando um luxuoso Mercedes Benz estacionou em frente, buzinando, fazendo um verdadeiro escarcéu. A motorista era a Cigarra, toda enfeitada, maquiada, vestida de veludo e um casaco de vison, com anéis de ouro e brilhantes, colares de diamante, de pérolas, etc. O carrão tinha aquecimento interno, televisão, adega, geladeira bem sortida, enfim todo o conforto possível.
A Cigarra buzinou mais vezes e acordando a comadre Formiga falou:
- Comadre Formiga, eu vim ver você para me despedir, porque eu estou noiva e vou a Paris para me casar com um príncipe muito rico. Tudo isto, que a comadre está vendo foi presente dele.
A Formiga olhou o reluzente Mercedes Benz, todo aquele aparato, a Cigarra bonita, esplendorosa, encapotada, esbanjando todo o conforto de uma princesa. Não se conformou, e desabafou:
Comadre Cigarra!
Você falou que vai a Paris para casar com um príncipe, não é? Então comadre, se você encontrar lá um senhor que se chama La Fontaine, mande ele pra P.Q.P., viu?...
SEGUNDO CONTO
Não é piada, é um fato simples que aconteceu na Academia do Barro Branco, numa aula prática de Tática de Infantaria, e eu estava lá.
A Força Pública era muito belicosa. A ordem que tinha o Comando era a instrução militar muito severa, pois a Corporação tinha sido convocada para a guerra em 1943, para a defesa das Nações Unidas. A nossa vibração era extremada, lutar na Itália, derrotar o nazi-fascismo, libertar a França, morrer defendendo a honra a Pátria; arroubos da juventude! Que saudades...
No campo, a simulação era perfeita, trincheiras, Pelotões para o ataque, Artilharia a postos, a Cavalaria pronta para a carga, fuzilaria, rajadas de metralhadoras (festim). Em meio àquela confusão toda, um cadete, aturdido, desorientado, desgarrado de seu Pelotão, em meio às explosões de bombas, suando às bicas, sangrando (arranhões de espinhos), fardamento aos farrapos, eis que chega, a galope, o major Diretor de Ensino da Academia, comandante do ataque ao “inimigo” que esbravejou:
- Cadete, onde está o seu Pelotão?
- Cadete viva a situação de guerra. Cadete viva a situação.
E o cadete nada, inerte, não falava, não reagia, assustado com a “guerra”, ainda mais com a figura espartana do Comandante.
-CADETE VIVA A SITUAÇÃO !!!
-VIVA A SITUAÇÃO CADETE!!!
Aí, o cadete, ainda confuso mas eufórico, enche o peito e grita:
- VIVA SEU MAJOR! VIVA SEU MAJOR! VIVA SEU MAJOR!
A PONTE
Um fazendeiro muito rico, já velho, pai de dois filhos, dividiu suas terras equitativamente. Cada filho herdou a sua gleba, com suas benfeitorias, suas aguadas, seus rebanhos, suas cabeças de gado, tudo, tudo, tudo como o falecido pai desejou, harmoniosamente.
Mas um deles, genioso, achou que alguns pormenores não estavam certos e aí começaram discussões entre eles. O irmão de boa índole atendia às reclamações, às vezes com perdas, para honrar a memória do pai, mas o outro, de índole má, queria mais e mais.
Resolveu então, o bom irmão, para não agravar a situação, mandar fazer um muro, nas divisas, isolando as duas glebas. Pensava que, com o muro alto não haveria mais contatos, mais confusões, mais dissabores com o ingrato irmão.
Procurou um pedreiro para a construção do muro. Apresentou-se um homem, nos seus 30 anos, cabelos e barbas compridos, olhar sereno, a fala como a candura dos anjos e o acordo foi feito.
O bom irmão viajou por uma semana e, quando voltou, a obra já estava pronta mas não era o muro, era uma ponte. Quando ia chamar a atenção do pedreiro, que não cumprira o acordo, eis que, o irmão a passos largos, irradiando felicidade, atravessou a ponte dizendo: meu irmão, pensei que você ia se separar de mim, mas você mandou fazer a ponte para que eu viesse abraçá-lo e pedir perdão pelas minhas malvadezas. A reconciliação foi divina!
O pedreiro a tudo assistia com um sorriso nos lábios. Os dois irmãos pediram que continuasse com eles, pois as duas fazendas precisavam de um bom pedreiro mas Ele declinou dos convites, dizendo: eu vou continuar a caminhada neste mundo, pois há muitas pontes para eu construir...