Já escrevi várias vezes que a
política, na década de 20, foi muito conturbada em nosso país. Começou com o
Tenentismo na Revolução de 1922, conhecida como os “18 do Forte de Copacabana”.
O Tenentismo continuou na Revolução
de São Paulo, em 1924, tornando-se mais intenso quando a Coluna Revolucionária,
em 1925, comandada pelo Gen. Miguel Costa, percorreu 30.000 Kms, pelo interior
do Brasil, pregando um novo idealismo, até agosto de 1927, quando os
remanescentes rebeldes se exilaram na Bolívia.
Por algum tempo houve uma certa
estabilidade política, quando, em março de 1930, foi eleito Presidente da
República o Dr. Júlio Prestes de Albuquerque, paulista de Itapetininga, para o
quatriênio 1930/34.
Mas (em tudo na vida existe um
“mas”) ressurgiu o Tenentismo, vigoroso e vingativo que, em apenas 21 dias
venceu, na revolução de 1930, os Legalistas de Washington Luis, anulando a
posse de Júlio Prestes e colocando, na Curul Presidencial, o Dr. Getúlio
Vargas, que governou o Brasil por 20 anos.
Um dos esteios da revolução vitoriosa
de Vargas foi Miguel Costa, que não acompanhou o novo Chefe da Nação, ao Rio de
Janeiro, preferindo ficar em São Paulo, comandando uma Brigada da 2.a
Região Militar, assumindo também o cargo de Secretário da Segurança Pública e,
a 28 de abril de 1931, acumulando mais uma nobre função, o Comando Geral da
Força Pública.
Nesse dia, reuniu-se no páteo do
quartel do então 1.o BC (hoje 1.o BPM/M “Tobias de
Aguiar”, a Rota) uma centena de Oficiais, a grande maioria Tenentes, contrários
a João Alberto Lins de Barros, nomeado Interventor Federal em São Paulo, pelo
ditador Getúlio Vargas.
Esse fato histórico é conhecido como
ABRILADA, o primeiro grito revolucionário, que apaixonaria, até o “Julho da
Clarinada”, como uma bola de neve, os líderes e a opinião pública de São Paulo,
inconformados com o Tenente Interventor.
Houve, na época, uma cisão dentro da
Força Pública: oficiais simpáticos à Miguel Costa e oficiais fiéis ao
Presidente derrotado Julio Prestes.
Miguel Costa, herói todo poderoso,
premiou os seus fiéis revolucionários com uma chuva de promoções, como dizemos
hoje “O Trem da Alegria”. Homens valentes de sua confiança envergavam, após
outubro de 1930, o galão e o talabarte de oficial. A princípio eram tratados
como inferiores e tiveram o batismo de Oficiais da Fumaça, uma conotação
um tanto pejorativa.
Com o tempo, os ressentimentos mútuos
foram se diluindo, ensejando a fundação, em 17 de outubro de 1931, da Liga de
Esportes da Força Pública, raiz da vibrante e combativa AOPM, que chamamos
carinhosamente de O Clube da Ativa.
Um detalhe lamentável foi a Liga de
Esportes não aceitar oficiais reformados, como associados, propiciando o
surgimento de figuras exponenciais, como o Ten. Cel. Azarias Silva, Maj.
Faria e Souza, Cap. Antônio Pietscher, Cap. João Guedes da Cunha, Cap. Manoel
Cravo (lutou em Canudos) e o Ten. José Caboclo, heróis de tantas
revoluções, que se reuniram nos bancos do Jardim da Luz, onde redigiram uma
ATA, em 25 de março de 1935, elegendo o Maj. Médico Arlindo Carvalho Pinto, o
primeiro Presidente da novel Entidade.
Nasceu então a nossa querida Associação
dos Oficiais da Reserva e Reformados da Polícia Militar, que já completou
81 anos de existência, lutando com
desassombro pelas suas gentes e defendendo os nobres ideais da Tropa do
Brigadeiro Tobias de Aguiar.
OFICIAIS 501
Título estranho esse que, para
explicá-lo, temos que nos lembrar do Dr. Adhemar Pereira de Barros, que
governou São Paulo por três vezes, a primeira como Interventor e outras duas
como Governador e, diga-se de passagem que,
em 1950, poderia ter sido eleito Presidente da República, pois o cavalo
estava arriado e arretado mas ele não montou... coisas da vida política.
Em 1947 foi promulgada, por ele, uma
Lei que promovia a 2.º Tenente os 1.º Sargentos da Força Pública, ao passarem à
inatividade, extensiva ao posto correspondente na Guarda Civil.
Um número apreciável, desses novos
tenentes, não conseguiu associar-se ao Clube dos Oficiais da Força Pública,
porque eram Oficiais 501, um preconceito injustificável, não eram acadêmicos,
repetindo aquela atitude lamentável da Diretoria da Liga de Esportes, em 1931.
Também houve expoentes como os
Majores Raul, Ezequiel, Vaz, Figueiredo, Cabral e tantos outros saudosos
amigos, que reagiram e fundaram o Clube dos Tenentes, cuja maior obra
foi a construção da Colônia de Férias de Itanhaém, hoje pertencente ao Solar da
Tabatinguera.
A fusão da Força Pública, com a
Guarda Civil, em 1970 propiciou ao Clube dos Tenentes unir-se à Associação dos
Inativos da Guarda Civil, formando o Círculo dos Oficiais da Polícia Militar,
o qual, em 1973, fundiu com o CORPM, o nosso Clube dos Oficiais da Reserva e
Reformados da Polícia Militar, hoje a nossa notável AORRPM.
Por um lapso, a Lei 501 esqueceu dos
sub-tenentes, forçando uma nova Lei, promulgada às pressas, com uma redação
falha, propiciando aos tenentes, já promovidos pela 501, a oportunidade de mais
uma promoção.
Como na época estava em vigor na
Corporação mais duas promoções – Revolução Constitucionalista de 32 e a Lei de
Guerra -, aconteceu um fato que foge à lógica, os sub-tenentes promovidos a
Capitão e aqueles Primeiros Sargentos promovidos a Major.