A Ilha Anchieta é um recanto portentoso do litoral norte de São Paulo, conservando ainda as cicatrizes do Levante dos Presidiários, naquela tragédia da manhã de 20 de junho de 1952.
Naquele dia, nossa história registrou a tenebrosa ação de centenas de detentos, muitos de alta periculosidade, os quais, na ânsia de seus propósitos recalcados de liberdade e banditismo, assassinaram, com requintes de barbárie, dez Servidores do Estado, entre eles oito militares do 5.º BC, unidade sediada em Taubaté, hoje 5.º BPM/I.
Foi a rebelião comandada pelo detento João Pereira Lima. Os amotinados queriam ganhar o continente, subir os paredões da Serra do Mar, esconder-se nas densas matas, ludibriar os perseguidores e fugir da Justiça.
Nesse 20 de junho, era dia de corte de lenha, para o abastecimento das cozinhas do presídio. Dois turnos de presos foram organizados. Um de 17 detentos para o Morro do Papagaio, escoltado por apenas um soldado. O segundo turno de 100 detentos, na outra encosta do morro, para transportar, à sede, grande quantidade de lenha já cortada, vigiado por apenas 2 soldados.
Os três policiais estavam armados com mosquetões Mauser e os dois civis, agentes do presídio, também faziam parte da escolta, porém sem armamentos.
Facilmente os presos já combinados, dominaram as escoltas, apoderaram-se das armas e desceram em direção à Guarda Militar. Toda a guarnição foi presa, culminando os assassinatos. Não contentes, ainda tripudiaram sobre os cadáveres, com coronhadas e baionetadas.
Saldo da tragédia: 22 mortos e 24 feridos, alguns gravemente. Entre os mortos, registramos:
Sgto: Melchíades Alves de Oliveira e os Sds. Hilário Rosa, Octávio dos Santos, José Eugênio Pavarin, José do Carmo da Silva, José Laurindo, Bento Moreira e Benedito Damásio dos Santos.
Foram mortos os funcionários civis: Portugal de Souza Pacheco e Oswaldo dos Santos. Morreram também na refrega 12 presidiários.
Aconteceram os inquéritos de lei. Por muitos anos movimentaram-se as justiças militar e civil. Gastos imensos do Estado, na condução e recondução de presos, escoltas, reconstituições da luta, idas e vindas a Ubatuba, à Ilha, a Taubaté, a São Paulo, centenas de depoimentos ouvidos pelos magistrados do Fórum Castrense e Civil.
Mas, tudo isso se desvaneceu no tempo, tudo isso foi insignificante, todos esses gastos materiais nada representaram, comparados às feridas das almas daqueles, que foram testemunhas presenciais da fúria humana e dos que prantearam os entes queridos, mortos no tenebroso Levante da Ilha, até hoje fantasma e, no entanto, leva o nome tão lindo do Santo Brasileiro.
Imagem retirada de: www.ilhaanchieta.com.br/ruinas.htm