Em 1938, o Dr. Adhemar de Barros foi nomeado Interventor Federal, em São Paulo (26-04-38 a 05-07-41), por Getúlio Vargas. Inteligente e operoso, viajava sempre pelo interior do estado, como dizia: "Ver minha gente, prosear ao pé do fogo, sentir a alma do povo, enfim tomar conhecimentos dos problemas de cada município, trocar ideias com os líderes políticos, pois seu objetivo era firmar-se na carreira política.
Populista por excelência foi prefeito da capital paulista, elegendo-se por duas vezes, governador do estado (14-03-47 a 31-01-51 e 31-01-63 a 02-07-66).
Seu populismo cresceu, era admirado no Brasil inteiro e seria forte candidato, em 1950, à Presidência da República, não fosse uma barganha política, com outro populista, Getúlio Vargas, exilado em São Borja, no RS, trazido ao Catete, com apoio adhemarista e nos braços do povo.
Voltemos ao ano de 1938, quando uma comitiva chegou a uma pequena cidade, Campo Largo de Sorocaba, hoje Araçoiaba da Serra, terra natal do Cel. Pedro Dias de Campos - "monstro sagrado" da história bandeirante.
Na comitiva, o Interventor Adhemar de Barros, secretários de seu governo e muito políticos. Assustados, os habitantes acorreram ao Largo da Matriz, onde lá já estavam o prefeito e os notáveis da cidade, pressurosos em recepcionarem tão importantes autoridades.
Adhemar tinha sempre a tiracolo um informante, espécie de ventríloquo, que lhe falava discretamente o nome e a função de cada cidadão que se aproximasse. Um destes, cinquentão, nascido lá pelas bandas do Rio Bonito, acercando-se, tirou o chapéu, em reverência, quando ouviu uma voz impostada, fanhosa e eloquente:
- Raul de Oliveira Melo, meu caro coletor estadual, dá cá uma abraço!
Nesse instante, Raul, meu augusto e saudoso pai, foi flechado, se tornando fanático pelo grande político. Em todas as disputas eleitorais, papai era sempre o seu intrépido cabo eleitoral. Os anos se passam e, na vertiginosa luta política do grande paulista, ele se engalanava na vitória e sofria nas derrotas.
Em 1958, adoeceu gravemente, mas não esquecia de seu grande ídolo, acompanhando diariamente seus lances políticos. Foi estarrecedor para mim ouvir do médico: "Seu pai tem apenas quinze dias de vida"...
Pensei comigo: Vou lhe dar uma alegria. Fui à prefeitura, na época no Ibirapuera, historiei ao Dr. Adhemar, os vinte anos do seu fiel e fanático eleitor, solicitando se possível uma visita a papai.
Adhemar atendeu ao meu pedido e no trajeto para casa lembrou de Campo Largo, em 38, se desculpando da visita rápida, pois tinha mais compromissos.
O reencontro foi magistral! À entrada do quarto, ouviu-se aquela voz alegre e forte do prefeito:
- Raul de Oliveira Melo dá cá uma abraço, como vai de saúde? Como vai Bofete, a terra do petróleo?
Adhemar esqueceu dos compromissos, conversaram por mais de uma hora. Papai resplandecia de felicidade.
É possível que, em algum lugar da Eternidade, numa conversa ao pé do fogo, estejam Adhemar e seus amigos, sendo absolutamente certo a presença de meu saudoso pai.
Obrigado Adhemar.
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