Mário Neves e eu éramos então
soldados da Força Pública, no velho quartel do CIM (Centro de Instrução
Militar), nos idos de 1939, quando estudávamos para a realização de um sonho,
sermos aprovados, como cadetes, na Escola de Oficiais (hoje Academia do Barro
Branco) e alcançarmos o oficialato da gloriosa Corporação.
Naquela época o dinheiro era curto.
Uma pensão de fundo de quintal nos vendia uma marmita, com um pouco de arroz,
um pouco de feijão, um ovo e um bife tridimensional (três centímetros).
Todos os dias, quando a marmita
chegava, também chegava uma cachorrinha vira-lata, linda, branca com alguns
espaços pretos, saudando-nos com o abano de sua cauda. A saudação era mais para
o tridimensional bife do que para Mário e eu. Apelidamos a cadelinha de
Chulipa. Dividíamos então o bife, o arroz e o feijão para 3 bocas famintas. O
ovo, Chulipa repelia para a alegria nossa.
Lendo o nosso jornal, Benê, nossa
associada, viúva do saudoso Cel. Waldemar Alves de Almeida, ficou encantada,
telefonando-me, com a voz embargada pela emoção, certamente relembrando uma
época feliz de sua vida.
Casal feliz -Waldemar e Benê- ela
linda como uma estrela de Hollywood e ele, guapo rapaz, meu colega no
aspirantado de 1944.
No ano seguinte, Waldemar e Benê se
casaram e viveram a realidade de seus sonhos, durante longos e felizes anos,
mas a vida é algumas vezes triste, Waldemar também partiu, e é certo que habita
a casa do Senhor.
A notícia que Benê me deu, quando me
telefonou, foi que a linda Chulipa, separada de nós em 1940, apegou-se a eles.
Em fins de semana, Waldemar, enamorado, vinha ao encontro de seu grande e único
amor, Chulipa vigiava e aprovava o lindo romance. Na foto que ilustra esta
crônica, Waldemar e Benê, acompanhados da linda cadelinha branca com manchas
pretas.
Chulipa morreu, velhinha, nos braços
de Waldemar, que com lágrimas nos olhos, a enterrou dignamente em seu quintal.
Assim me
contou Benê... os dias, os meses, os anos se passaram. Benê envelheceu, adoeceu
e partiu... um sonhador, romântico e
ficcionista, olhando para o céu, certamente verá, entre as estrelas, quatro
sombras, a menor delas abanando a cauda.
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