Dia 09 de novembro p.p, aconteceu na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, a solenidade de formatura de 89 tenentes do curso superior de Tecnólogo de Administração Policial Militar, presidida pelo Cel. PM Roberval Ferreira França, digno Comandante Geral da Corporação. Estavam presentes o Cel. Luis Eduardo Pesce de Arruda, diretor de Ensino e Cultura, o Major Olímpio Gomes, nosso deputado da Assembleia Legislativa, o desembargador Lazarini, os juízes de nosso Tribunal Militar, Ceis. Avivaldi e Santinon, o Cel. Ventura, presidente do MMDC, o Comandante da Academia, Cel. PM José Maurício Weisshaupt Peres, vários oficias superiores e demais oficiais e praças da PM, além dos familiares dos novos tenentes.
Tive a honra de ser o paraninfo da turma "120 anos - 2 de Ouro - 2º BPM/M - Cel. Herculano de Carvalho e Silva". Na minha oratória, homenageando os dignos formandos, congratulei-me com eles pela feliz escolha de batismo da Turma. Falei também de minha emoção por recordar que há 68 anos eu recebia a Espada de Aspirante, naquele pátio sagrado da antiga e querida Força Pública de São Paulo. Senti naquele momento que uma "ilusão gemia em cada canto e chorava em cada canto uma saudade"
Por quê 120 anos?
Com o advento da República, São Paulo crescia a passos largos, movimentado pelo General Café. Era urgente uma reforma, uma atualização do Corpo Policial Permanente. Em 1891, a denominação passou a ser "Força Pública Estadual", com quatro Corpos Militares de Polícia. Os dois primeiros foram os atuais 1º BPM/M Tobias de Aguiar, a ROTA e o 2º BPM/M Cel. Herculano de Carvalho e Silva, instalados na Avenida Tiradentes, a 1º de dezembro de 1892, portanto há 120 anos. O Quartel do Corpo Policial Permanente foi o primeiro andar da Ordem dos Carmelitas, hoje o prédio da Secretaria da Fazenda Estadual.
Por quê Dois de Ouro?
Em 1893, a nossa Marinha de Guerra sublevou-se contra o Presidente da República Floriano Peixoto. Era a Revolta da Armada, chefiada pelos Almirantes Custódio José de Melo e Saldanha da Gama, que desejavam derrubar a jovem república e repor o governo do Brasil onde estava a 15 de novembro de 1889, emprestando então, a esse movimento revolucionário, um cunho monarquista, a volta de Pedro II.
Ao mesmo tempo, Gumercindo Saraiva arregimentou forças gaúchas - Revolução Federalista - empreendendo a marcha ao Rio de Janeiro para juntar-se à Marinha, na ilusão de uma vitória.
Suas tropas estacionaram no Paraná sendo derrotadas pelos batalhões da legalidade, entre eles, o nosso 2º Batalhão de Infantaria, que libertou Paranaguá e Curitiba em poder dos Federalistas. Nessa ocasião foi apelidado pela imprensa local de Dois de Ouro, desfilando pelas ruas atapetadas de flores da capital paranaense.
Por quê Herculano de Carvalho e Silva?
Ele é um dos ícones da história militar paulista, guerreiro e lutador nas Revoluções de 1922 (Os 18 do Forte de Copacabana), em 1924 (Revolução de Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa), na perseguição em 1926 da Coluna comandada pelo Gen. Miguel Costa e, em 1930 defendendo a legalidade contra Getúlio Vargas.
Em 1932, o Cel. Herculano comandava o 2º Batalhão de Caçadores, o Dois de Ouro, seguindo para a frente de combate, enfrentando a Força Pública de Minas Gerais, em duros e cruentos combates, na região do Túnel da Serra da Mantiqueira. Com a morte de Júlio Marcondes Salgado, a 23 de julho foi ele nomeado Comandante Geral da Força Pública. O fronte agora, não era somente a batalha do Túnel, era quase todo o Brasil contra São Paulo, esse Brasil que não entendeu o patriotismo dos paulistas, não entendeu que um país não pode ter um ditador que rasgou a Constituição brasileira, a nossa carta magna. Infelizmente São Paulo foi derrotado.
O Marechal Foch, comandante supremo dos exércitos aliados, contra a Alemanha, em 1918, comandando 1 milhão de homens, depois da vitória expressou o seguinte: "O Presidente Wilson dos EUA proclamou: Nós ganhamos a Guerra! O 1º Ministro da Inglaterra, Lorde George reclamou vitória para sua pátria e Clemenceau, ministro da França, falou mais alto, elegendo os gauleses como vitoriosos. Esquecido na sua modéstia, o grande marechal confidenciou: "Se perdêssemos a guerra todos eles procurariam um traidor, um Judas e esse traidor, esse Judas seria eu".
O mesmo aconteceu com o Cel. Herculano de Carvalho e Silva. Ele escreveu: Se São Paulo vencesse a sublime revolução constitucionalista, de 1932, os vitoriosos seriam: Pedro de Toledo, Gen. Isidoro Dias Lopes, Gen. Bertholdo Klinger ou o Gen. Euclides Figueireido! Como perdemos, procurou-se um traidor, procurou-se um Judas e esse traidor, esse Judas fui eu!
No fim de meu discurso, tornei a agradecer aos jovens tenentes a honra de ser paraninfo. Lembrei-lhes da gravidade do momento, a gloriosa corporação enfrentando uma guerrilha de bandidos, com o sangue derramado de dezenas de nossos heróis. Lembrei-lhes também que eles, além de suas funções administrativas, certamente seriam convocados nessa dura refrega e por fim, sugeri ao Cel. Roberval, o nosso comandante, que se for preciso convoque os veteranos da gloriosa PM para a luta.