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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sianinha, você me perdoa?!

Cursava eu o terceiro ano do ginásio, na Escola Normal Peixoto Gomide, em Itapetininga, no distante ano de 1936, quando, pela primeira vez vi Dilermando de Assis, na época capitão do exército, pertencente ao Estado Maior do Gal. Cmte. da Segunda Região Militar (hoje, Exército do Sudeste).
Nossa Escola Normal fazia parte do roteiro de solenidades devidas a tão ilustres militares, que visitavam cidades onde tinham unidades do Exército, para um bom relacionamento com a sociedade, ainda agastada com a derrota da Revolução de 32, quando os paulistas queriam a Constituição, a Lei Magna da Pátria.
Finda a visita, nosso professor de música, maestro Modesto Tavares de Lima, contou-nos que aquele capitão, ao lado do general, era Dilermando de Assis, homem que matara o famoso escritor Euclides da Cunha e seu filho.
A segunda vez, eu já 1º Tenente, foi em 1948, no Palácio dos Campos Elíseos onde ele fora levar um convite de casamento de uma de suas filhas ao Dr. Adhemar de Barros. Na sua saída, o saudoso Cel. Oswaldo Feliciano, na época capitão Ajudante de Ordens do governador paulista falou-me que aquele cidadão era o 'homem que matara Euclides da Cunha', em 1909, na tragédia de Piedade, agora General Reformado Dilermando de Assis.
Perdera sua identidade desde aquele fatídico ano; em sua carreira militar galgou todos os postos de hierarquia mas, ninguém falava referindo-se a ele: o Capitão..., o Major..., o Coronel..., o General.... mas, falavam enfaticamente: 'Esse é o homem que matou Euclides da Cunha', brilhante escritor de Os Sertões, livro taduzido em inúmeros países.
Dos dois processos criminais: 1909 e de 1916, foi absolvido, pois, ficou provado que matou pai e filho em legítima defesa, entretanto, carregou por toda sua vida aquele estígma de ser o assassino do grande escritor. 
Doente, alquebrado, a pedido de sua filha, visitou Ana Paes, pivô do triângulo amoroso, que originou a tragédia. Estava agonizando. Dilermando achegou-se ao seu lado e, com os olhos marejados de lágrimas falou: "Sianinha, você me perdoa?". Meses depois fechou os olhos para o mundo, readquirindo sua identidade. Morreu como General do Exército Brasileiro.

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