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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Cabo Luiz da Gama


Luiz Gonzada Pinto da Gama foi de cabo de esquadra graduado, do Corpo Policial Permanente, ao brilhante advogado da libertação negra no Brasil.
Sua vida foi uma lição de amor, encerrando uma sublimidade inconfundível. Ei-la:
Nasceu Luiz Gama a 21 de junho de 1830, na rua do Bangala em Salvador da Bahia, filho natural de amores não legalizados. Sua mãe era uma negra Mina e o pai, branco, pertencia a uma rica família muito considerada na primeira capital do Brasil.
Viveu o pequeno seus primeiros anos num casebre, com sua mãe, a quem ajudava nos arranjos caseiros, acompanhando-a na venda dos quitutes pelas ruas da capital baiana.
O pai, que vinha de noite à casa da mãe, contava das caçadas e pescarias que fazia, das cavalgadas ruidosas e divertimentos de armas com seus amigos fidalgos e isso tudo empolgava o filho, que via nele o herói de tantas aventuras, inclusive da luta nativista da Sabinada.
Com dez anos, veio a morar no Rio de Janeiro, ocasião em que o pai, estroina, viciado no jogo, vendeu o filho como escravo.
Teve muitos donos e conheceu muitas senzalas, sofrendo em suas carnes o chicote do feitor. 
De mão em mão chegou em São Paulo, já com 17 anos, servindo ao Alferes Cardoso, onde aprendeu a ler, a escrever e contar, graças a Antonio Rodrigues do Prado Jr., a esse tempo estudante da faculdade de Direito. Com esses conhecimentos assentou praça Corpo Policial Permanente, pois como soldado não poderia ser incomodado pelo seu dono. 
Serviu à milicia durante 6 anos, sendo ordenança do Conselheiro Furtado de Mendonça, de quem se tornou grande amigo.
Esse convívio foi sua grande universidade, pois no gabinete, entre as suas refeições e a noite, ele compulsava os clássicos, os mestres do Direito e do pensamento humano.
Estudando com afinco ele não esquecia a sorte dos negros, de seus desventurados irmãos escravos.
Certa vez, ao repelir a insolência de um oficial que o maltratou, porque ousara defender um escravo que apanhava, foi preso por trinta dias, aproveitando esse tempo, na cela, para leituras e estudos.
Devorou livros pelo anseio de saber, passando a trabalhar no mesmo gabinete de Furtado de Mendonça, e nessa oportunidade sentiu a inclinação para a ciência do Direito.
Em 1856 foi nomeado Amanuense da Secretaria da Polícia até 1868, época em que perseguido, foi demitido "a bem do serviço público" , simplesmente pelo fato de ser um liberal exaltado, de promover, pelos meios judiciários, a liberdade de negros cativos e de conseguir alforrias, na medida de suas posses.
Dedicou-se ao jornalismo, escrevendo para os jornais, em prosa e verso, chegando a redator do "Radical Paulistano". Foi também orador dos mais brilhantes. São de sua autoria as "Trovas Burlescas", "Getulino" e "A Bodarrada".
Na imprensa tinha o pseudônimo de "Afro", representando a grita do pensamento jovem contra os escravagistas, tornado-o grande advogado dos escravos e o terror dos senhores.
Estes puseram sua cabeça a prêmio, sendo constantemente processado, atocaiado e ameaçado de morte.
Na Convenção de Itu, em 1873, levantou a questão da completa liberdade dos escravos no Brasil. Essa liberdade se deu em 1888, fruto da semeadura de Luiz Gama, entretanto ele não a assistiu, pois morreu em 1882.
Seus funerais foram uma apoteose. Velhos, moços, mulheres, crianças, brancos e pretos, numa procissão interminável levaram seu esquife  até o cemitério da Consolação.
Lindo o seu destino, pois foi escravo que se libertou das algemas da ignorância, para poder lutar pela liberdade de seus irmãos negros.
Um de seus filhos ingressou no Corpo de Bombeiro, galgando o oficialato. Foi o capitão Pinto da Gama que serviu à Corporação até os primeiros anos do século XX.

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