Boa leitura!

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

RESPOSTAS AO JORNALISTA YURI - NETO DO GENERAL MIGUEL COSTA

       5 – QUAL O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA POLÍCIA MILITAR?

Yuri, a resposta a esta sua pergunta merece um retrospecto, uma volta ao nosso passado, situando-nos em Portugal, em meados do século XVI, quando o Governo português arregimentou suas Tropas, equiparando-as e treinando-as à moda dos Exércitos Europeus, já despojados das armas, das técnicas e táticas medievais.

Toda essa estrutura Portugal transferiu para o Brasil, em fins do século XVI, iniciando o Ciclo das três Linhas:


1.ª Linha – Tropas Pagas

2.ª Linha – Auxiliares ou Milícias

3.ª Linha – Ordenanças, que são as raízes das Polícias Militares do Brasil. As duas primeiras linhas se fundiram, em 1824, criando o nosso Exército.


As primeiras e segundas Linhas (Tropas Pagas e Milícias) lutavam nas guerras do Sul (1580-1828) contra os Castelhanos de Buenos Aires e do Paraguai, atacando o Continente de São Pedro, os Sete Povos das Missões e a República do Viamão. Os desfalques das nossas Tropas – mortes, feridos, prisioneiros e deserções – eram completados pela terceira Linha, as Ordenanças, que tinham suas Companhias destacadas em todas as vilas da Capitania de São Paulo (São Paulo, Santos, São Sebastião, Ubatuba, São Vicente, Itanhaém, Iguape, Cananéia, Paranaguá, Curitiba – estas duas no Paraná, que naquela época pertencia à Capitania de São Paulo -, Paranaíba, Guaratinguetá, Jacareí, Sorocaba, Jundiaí, Mogi das Cruzes, Pindamonhangaba e Taubaté).

A Companhia de Ordenanças era comandada pelo Capitão-Mor, encarregada de toda segurança da Vila, e tinham por missão também a construção e manutenção de estradas e pontes.

Uma terceira missão nobre das Ordenanças aconteceu no Sul de Mato Grosso, frente ao Paraguai, quando os seus castelhanos invadiram, o Brasil atraídos pelo ouro das Minas Gerais. Elas construíram e defenderam a Fortaleza de Iguatemi por dez anos. Suas tropas tomavam as barcaças no Rio Tietê em Araritaguaba (hoje Porto Feliz), com destino ao teatro da guerra. Foram centenas de mortos em combate, também sucumbidos pela malária, denominada toda a região do Rio Iguatemi como o Cemitério dos Paulistas.

Meu bom amigo Yuri, toda essa dissertação sobre as Ordenanças (como foi dito atrás as raízes das PMs do Brasil), somada às glórias da nossa Corporação, a partir de 1831 (os Permanentes na Guerra dos Farrapos, em 1838, Revolução Liberal de Sorocaba - 1842, Guerra do Paraguai - 1865/70, a Força Pública na Revolta da Armada – 1893, na Guerra de Canudos – 1897, nas Revoluções da década de 20, a Arrancada Constitucionalista de 1932 e nas Refregas contra os Comunistas de Luis Carlos Prestes em 1935, e os Integralistas de Plínio Salgado em 1938, na Segunda Grande Guerra Mundial – 1943/45, na Revolução Redentora de 1964, a Guerrilha do Vale do Ribeira em 1969 (lembremos do nosso herói mártir, o Capitão Mendes Júnior) e, nos últimos acontecimentos, a nossa Polícia Militar altaneira, como Tropa Auxiliar das nossas Forças Armadas na defesa do Brasil.


Nas linhas e entrelinhas destes escritos, o leitor entenderá o sublime significado da Tropa de Piratininga, criação de Tobias de Aguiar.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

RESPOSTAS AO JORNALISTA YURI - NETO DO GENERAL MIGUEL COSTA

4 – COMO SE DESENVOLVEU A SUA CARREIRA MILITAR E O QUE MUDOU
DE SUA ÉPOCA PARA A ATUALIDADE? 


A carreira na nobre Corporação desenvolveu-se normalmente. Recruta em Sorocaba no 7.º BC, senti a emoção do meu primeiro ordenado – DUZENTOS E NOVENTA MIL REIS – Com tanto dinheiro realizei um sonho, comprei um relógio de pulso, obsessão minha desde os tempos de ginásio, pois ele nos elevava socialmente.

Em Janeiro de 1940 fui promovido a soldado, pronto para lutar e morrer pela Pátria, cumprindo o sagrado juramento à Bandeira que rezava, num dos parágrafos “cuja Honra, Integridade e Instituições defenderei com sacrifício da própria vida”.

Em 1941 passei no vestibular, envergando a farda de Cadete no Centro de Instrução Militar (CIM), hoje Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Foram 4 anos de exercícios de guerra simulados nas Matas da Cantareira.

Em 1943, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo Roma – Berlim – Tóquio, aliando-se às Nações Democráticas, Estados Unidos, Inglaterra, França e outras.

Em 15 de dezembro de 1944, a promoção à Aspirante a Oficial e as notícias ou boatos nos informavam que Batalhões São Paulo e outros Estados da Federação Brasileira formariam o 4.º Escalão da FEB (Força Expedicionária Brasileira) mas a Alemanha, já enfraquecida, perdendo toda a sua potência militar nos duros combates na Rússia, destroçadas as suas famosas PANZER DIVISIONE pelo General Inverno. Hitler teria cometido o mesmo erro de Napoleão Bonaparte, invadindo o Norte da África e a Rússia.

Em maio de 1945 a guerra acabou e aquele sonho de morrer pela Pátria se desvaneceu.


Oficialato – Roteiro
Aspirante em Sorocaba – 7.º BC
2.º Tenente em Bauru – 4.º BC
1.º Tenente na Escola de Educação Física
1.º Batalhão Policial - Choque
Capitão no Batalhão de Guardas – BG
Capitão no 9.º BC
Major em Ribeirão Preto – 3.º BC
Ten. Cel. no Batalhão de Trânsito – 11.º BC
Coronel no Quartel do Comando Geral

Guardo de todas essas Unidades Administrativas (hoje OPMs) boas lembranças, também algumas não muito boas. Vejamos:


Sorocaba

Em 1939, a cidade recebeu a visita de Getúlio Vargas, cujo destino era o Morro do Ipanema, imitando D. Pedro II que, na Guerra do Paraguai, tirou todo o ferro necessário para fabricar canhões. A ideia de Getúlio era aproveitar as minas de ferro da região para uma siderurgia. Anos mais tarde conseguiu realizar o seu sonho, a Siderúrgica de Volta Redonda, num acordo com a Diplomacia Americana. Na segunda visita do Presidente, fins políticos, em pleno regime do Estado Novo, dois ou três ex-combatentes de 32 (um deles dono de um restaurante), com muito uísque na cabeça, subiram à torre da Catedral e de lá atiraram contra a caravana presidencial. O Tenente Gregório, fiel escudeiro do Presidente e o nosso Capitão Franco Pinto levaram tiros de raspão nos ombros. Getúlio tinha o corpo fechado.

Uma lembrança triste! Um soldado com problemas psicológicos, jardineiro do quartel, num momento de fúria, assassinou o Major Roberto, Sub-Comandante do Batalhão, abalando toda a Força Pública e toda cidade. O assassino foi condenado a 30 anos de prisão e a cumpriu integralmente, pois naquele tempo não havia o absurdo da progressão de pena. Nesse mesmo ano um fato aterrador na capital, os jornais estampavam em várias edições, as rádios espalhavam para todo o Brasil, os jornalistas estrangeiros mandavam para seus países a notícia triste de um soldado de Cavalaria que, abandonando o serviço da Guarda do Hospital Militar com sua arma embalada se dirige à zona do meretrício (Rua Aimorés, no Bom Retiro), assassina na cama sua amante e o freguês; assassina mais doze pessoas nos bancos do Jardim da Luz, eram casais de namorados.

Modesto o seu nome, volta ao serviço no HM, e no banheiro da guarda coloca o cano do mosquetão na garganta e aperta o gatilho, os seus miolos voam no espaço. Ele tinha cinco anos de bons serviços prestados, soldado exemplar e estava no ótimo comportamento.


Bauru

Bela cidade, chamada pelos homens da terra de a Capital da Areia Branca ou a Cidade Sem Limites! Nova, ruas bem traçadas, belos jardins, um povo acolhedor. A estação ferroviária era enorme, bem construída, abrigando a Sorocabana, a Paulista e a Noroeste (esta chegava até Santa Cruz de La Sierra, no sul da Bolívia).

Lindo quartel, com a legenda no seu frontespício AQUI SE APRENDE AMAR E DEFENDER O BRASIL.

Em 1946, uma ocorrência triste, o 1.º Tenente Alcides, bom amigo, tinha sido transferido para a cidade de Araçatuba para assumir as funções de Oficial de Ligação com a Polícia Civil, transferindo para mim a Secretaria do Batalhão.

Um ano depois chega a notícia aterradora, o Tenente Alcides tinha falecido no cumprimento do dever, como herói. Por questões ignoradas um chefe de família (mulher e três filhos, um ainda bebê) ateou fogo na casa, colocando também uma dinamite na sala. Alcides e Praças do Destacamento agiram imediatamente, salvando a mulher e dois filhos, quando a mãe aflita gritou o bebê ficou no berço! Nessa hora nasce o herói Alcides, pois num relance, em meio às labaredas, abraça o bebê agasalhando-o com sua túnica, corre com ele e, já perto da saída, explode aquela dinamite em seu corpo, ele e o bebê mortos, estraçalhados pela loucura de um homem. 

Falemos agora da Shindo Remei x Toco Tai. A colônia japonesa em Bauru, Bastos, Marília e outras cidades vizinhas já era numerosa bem antes da 2.ª Grande Guerra Mundial (1939/45).

Quando esta terminou na Europa, em maio de 1945, derrotadas a Alemanha e Itália, o Japão continuou a enfrentar o poderoso Exército Americano. Poderosas também eram as Forças Armadas Japonesas, que se apropriaram de dezenas de Ilhas no Pacífico.

Pela estatística do Pentágono, a guerra continuaria por mais de 8 anos, ocasionando milhões de mortes entre os combatentes americanos e japoneses. O Presidente Roosevelt, aceitando um conselho do eminente cientista Albert Einstein, havia criado o projeto Manhattan, designando Robert Oppenheimer para executá-lo. Era o estudo para a fissura do átomo.

Duas bombas atômicas acabaram com a guerra: a primeira em 1 de agosto contra Hiroshima, a segunda a 9 de agosto contra Nagasaki no mesmo ano de 1945, causando perto de 300 mil mortes. Os japoneses citados no primeiro parágrafo, Bauru, Bastos, Marília e outras cidades ficaram divididos: os que acreditaram na derrota e os incrédulos, resultando então duas facções: SHINDO REMEI e TOCO TAI. A luta entre elas resultou alguns óbitos e dezenas de feridos. Seria uma tragédia maior, não fosse a ação pronta e decidida dos pelotões do 4.º BC de Bauru, que evitaram uma tragédia sem precedentes.


Escola de Educação Física

1.º de agosto de 1947 marcou a inauguração da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) e também o maior quebra-quebra em nossa querida São Paulo. A Força Pública e a Guarda Civil, atuando no centro e nos bairros, perseguindo caminhonetes ligeiras, sem placas, carregando copioso material inflamável – fardos de algodão – e gasolina, incendiando dezenas de ônibus e bondes.

Havia terminado o longo contrato com a LIGTH, ficando os bondes à disposição da Prefeitura que, num acordo com as companhias que exploravam os ônibus, adquiriu os seus coletivos comprando também novos veículos.

Um grande erro do nosso Alcaide foi dobrar as tarifas, esse ato sendo a centelha que detonou a tragédia.

A população desnorteada, procurando transporte para o trabalho, em meio ao fogo e fumaça, atrapalhava a nossa ação repressiva.

Centenas de prisões, feridos graves de parte a parte, e perda de tantos materiais preciosos. Somente à tarde do dia seguinte a paz voltou à Paulicéia.

A CMTC teve muitos problemas. Os gastos da Prefeitura foram enormes. Funcionários incompetentes, muitos desonestos, fraude em editais de concorrência para compras de veículos, reforma dos bondes, sumiço de motores e peças valiosas. Com o tempo ela ficou em estado de falência e teve o seu fim, voltando a exploração dos transportes de São Paulo para Entidades Civis.

Fim de ano – 1947 - a formatura no Curso de Oficiais Instrutores. Foi uma solenidade simples e o que mais nos impressionou foi a presença do Coronel Pedro Dias de Campos, o nosso Paraninfo. Já velho mas ainda com seu porte helênico saudou os seus afilhados com belas palavras, resumindo pontos importantes da história da Força Pública que comandou. Foi o homem criador da Escola de Educação Física, em 1910, a pioneira no Brasil, foi também o fundador do Escotismo em nossa Pátria, escritor de dezenas de livros históricos.

1.º Batalhão Policial – Choque

Em 1947 houve importantes mudanças na Força Pública. Diminuíram muito as instruções militares. Os ensinamentos da Missão Militar Francesa (a primeira de 1906 a 1914 comandada pelo Coronel Paul Balagni e a segunda, 1919 a 1924, no comando do General Antoine Nerel) foram sendo esquecidos. 

Foi criado então o 1.º Batalhão Policial, com uma Companhia de Choque, uma de Trânsito, uma de Segurança Pública. Houve conflitos com a Guarda Civil e a solução foi a divisão da cidade em 4 Zonas, Sul e Oeste para a GC e para a FP as Zonas Norte e Leste. A Avenida São João era o marco divisório, que passou a ser chamada de paralelo 38, lembrando a separação das duas Coréias em guerra, a do Norte protegida pela Rússia e a do Sul pelos Estados Unidos. Era o tempo da Guerra Fria, e a tensão entre as duas Coréias perduram até os dias de hoje e os protetores são os mesmos.

Os pelotões de Choque intervinham nas inúmeras greves de operários e também nos constantes conflitos políticos entre os Adhemaristas e Janistas. Num atraso de trens, da Central do Brasil, houve destruições de vagões e incêndio na estação de Carlos de Campos resultando em mortes e dezenas de feridos.

O pitoresco foi uma fuga de prisioneiros da Casa de Detenção (antigo Presídio situado na Avenida Tiradentes, próximo ao nosso Quartel). Os presos fizeram um túnel para a fuga, desembocando na Sala dos Oficiais do Batalhão. Trocaram os seus uniformes pelas fardas dos Oficiais e, na fuga, ao passarem pelo posto do sentinela, este tocou o alarme, pois todos eles sem perneiras e descalços. Os nossos Pelotões cercaram todo o Jardim da Luz, caçando os fugitivos que estavam embrenhados nos arvoredos, alguns nas copas das árvores. Foi cômico!!!


Batalhão de Guardas

O Batalhão de Guardas foi fundado em 1935 no Governo do Dr. Armando de Salles Oliveira, para três missões: Guarda do Palácio do Governo (na época nos Campos Elíseos) e Segurança na Penitenciária do Estado e Casa de Detenção. Atuava também, nos momentos críticos como greve de operários, distúrbios sociais ou políticos, principalmente nas disputas eleitorais entre Janistas e Adhemaristas.

A visita a São Paulo do Presidente de Portugal General Craveiro Lopes evidencia bem a guerra entre os dois famosos políticos.

A recepção a Craveiro Lopes na Prefeitura (Adhemar Prefeito) seria de manhã até às 14:00 horas e o Governador Janio Quadros receberia o ilustre Presidente da Mãe Pátria depois. Aconteceu que Adhemar prorrogou, acintosamente, o seu horário com o banquete, discursos, trocas de presentes e até às 16:00 horas Craveiro Lopes continuava na Prefeitura.

Janio, desesperado, raivoso, rogando pragas ao Alcaide, deu a seguinte ordem ao Tenente de sua Casa Militar, Wilson Vasconcelos: Vá ao Ibirapuera (Sede da Prefeitura) e traga imediatamente o Presidente Craveiro para os Campos Elíseos.

O General e a Primeira Dama de Portugal assistiam, perplexos, àquele momento da chegada do Tenente. Com desembaraço Wilson Vasconcelos, dirigindo-se ao Dr. Adhemar falou firmemente tenho ordem do Governador do Estado para levar imediatamente os ilustres visitantes para o Palácio do Governo!!!.

Adhemar, todo bonachão não atendeu de imediato às palavras do Tenente Wilson, que ponderou ao Prefeito a importância da sua missão, lembrando que quando Adhemar era Governo ele cumpria todas as ordens dos Campos Elíseos. Ao final o ilustre casal foi liberado, já estava anoitecendo. 


9.º Batalhão de Caçadores
A Greve dos Bombeiros em 1961


Em 1955, substituindo o prof. Lucas Nogueira Garcês, assumiu o governo de São Paulo o Dr. Jânio da Silva Quadros, ficando no poder até setembro de 57, quando se desincompatibilizou, para concorrer às eleições a Presidente da República. (1959-1963).

Sua carreira política foi rápida: vereador em 1947, em janeiro de 1961 já tinha assento à Curul Presidencial, na nova capital federal - Brasília, inaugurada um ano antes pelo grande presidente Juscelino Kubitschek.

Fixemos Jânio Quadros em 1955, entronizado no Palácio dos Campos Elíseos. Ele personificava a esperança do povo bandeirante, acreditando que a vassoura (peça principal de sua campanha), iria varrer todos os corruptos do Estado. Ela era exaltada em todos os comícios de rua, nas rádios e televisões, a figura de Jânio empunhando-a num gesto teatral, cantando com o povo enlouquecido "varre, varre vassourinha".... , canção cunhada em milhares e milhares de discos. Jânio era então o gênio do populismo.

Nos trinta meses que governou São Paulo, ele destilou todo ódio à Força Pública, diminuindo ou cortando nossas verbas orçamentárias, sofrendo a Cavalaria sem milho e alfafa para os animais, a farmácia sem medicamentos, o Hospital Militar carente de meios para cuidar da saúde dos nossos homens. 

Nesse estado de coisas brotou, nas mentes e nos corações dos Tenentes da época, uma ideia revolucionária para o desagravo; a ordem era depor dos Campos Elíseos, aquele governador rancoroso, autoritário, que ofendia a honra da tropa de Tobias de Aguiar.

Inspiramo-nos, então, no Tenentismo de Cabanas, o Comandante da Coluna da Morte da Revolução de 1924 e Miguel Costa, monstro sagrado da nossa história, que assombrou a Nação, comandando a maior marcha militar do planeta, a Divisão Revolucionária Miguel Costa/Prestes.

O que teria acontecido para tanto ódio à nossa Corporação? Sem dúvida os nossos milicianos dos batalhões de Choque, patrulhas de área ou lanceiros a galope, teriam a agido às vezes com energia, para a manutenção da ordem, nas manifestações excessivas ou desordeiras de seus apaixonados seguidores. E foram muitos os conflitos! 

“Navegar era preciso”, combater Jânio Quadros também era. Começamos as reuniões secretas, realizadas à noite em dois pontos estratégicos: o primeiro no Hospital Militar da Rua Jorge Miranda, (o novo em construção no Barro Branco) e outro no Quartel velho da Tiradentes (o novo em construção na Praça Fernando Prestes). 

As ordens de reuniões eram enviadas para mais de 200 tenentes, mas a decepção vinha no dia seguinte, quando poucos compareciam, a maioria nos decepcionava. Perguntávamos então a todos os faltosos a razão do não comparecimento e a resposta vinha sempre atrapalhada, demonstrando certa covardia, pois eles teriam comparecido no QG novo quando a ordem era no QG velho ou no hospital velho quando a ordem era no hospital novo.

De tanta demora, delongas, Jânio havia interrompido seu governo, candidato à Presidente da República, fato já contado acima. Seu substituto foi o prof. Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto que pagou o pato, e várias revoltas estouraram em suas mãos, ocasionando muitas prisões de Oficiais, cumprindo os seus corretivos nos Quartéis de Sorocaba e Taubaté, também no Forte de Itaipú em Santos.

Os desentendimentos com o Governador se agravaram, ao ponto de um Sargento completamente depressivo, matar sua família (mulher e 3 filhos), suicidando-se em seguida. Foi uma tragédia que entristeceu toda a nossa Tropa, também a sociedade paulista. Da iniciativa popular o Palácio do Governo foi invadido de milhares de protestos de todas as camadas sociais. Sentimos então que não estávamos sós, o povo estava conosco.

Em maio de 1961, uma Bandeira Preta foi hasteada no Quartel Central do Corpo de Bombeiros, os Tenentes assumindo o comando. O Aspirante Edil Daubien, comandando um comboio de viaturas, se dirige ao Palácio dos Campos Elísios, entregando-as ao Governador Carvalho Pinto com a seguinte mensagem: estes carros são de grande valia e não devem ser pilotados por policiais com o salário de fome e uniformes esfarrapados. 

Foi um estado de guerra, tropas do Exército, fortemente armadas, ameaçando invadir o Quartel Central da Praça da Sé. A situação foi se agravando com a adesão de Batalhões da Força Pública e muitos Inspetores da Guarda Civil também aderiram.

Chegavam notícias de que todas viaturas pesadas dos bombeiros tiveram seus tanques esvaziados, enchendo-os de gasolina para, no caso de invasão, provocar um incêndio rolante com resultados catastróficos para os dois lados, mas prevaleceu o bom senso, porque o Coronel do Exército,Comandante da Tropa, protelou por vários dias, talvez mais de uma semana, a tomada do reduto rebelde. E o que foi mais edificante, sublime providência, o fato do próprio Coronel, sozinho, entrar no Quartel, confabulando com Oficiais rebeldes, que o acolheram entusiasticamente.

Felizmente a guerra acabou, porque o Governador Carvalho Pinto aumentou os nossos vencimentos prometendo a compra de modernas viaturas para os Homens do Fogo.


3.º Batalhão de Caçadores 
Ribeirão Preto

O Batalhão responsável pela segurança do nordeste paulista. Ribeirão Preto foi a capital do café durante muitos anos e agora é a capital da Cana de Açúcar, o Ouro Verde bandeado para o Norte do Paraná. Bonita cidade banhada pelos rios Mogi e Pardo, com os seus maravilhosos pesqueiros. Lindas a Praça XV, a Cava do Bosque a imponente Catedral e outras belezas.

Em 1964 assumi o Comando Interino do Batalhão e logo inteirei-me da sua história, sua participação em várias Revoluções da década de 20, também na arrancada Constitucionalista de 32. Conheci alguns heróis remanescentes das refregas e aprendi muitas histórias e estórias contadas por eles.

Bonita a placa de bronze contendo os nomes dos heróis mártires, imolados por um ideal, a defesa da Ordem, da Lei e da Justiça. Essa placa está ao lado de uma obra de arte, feita pelo soldado Sicilini, que a talhou num tronco de uma peroba. É a figura imponente de um soldado de 32. 

Vamos contar mais uma ocorrência que abalou a Corporação e toda a Sociedade Ribeiropretana.

Havia na Escola de Oficiais do velho CIM (Centro de Instrução Militar) o Instrutor 1.º Tenente Geraldo Theodoro da Silva; também outro 1.º Tenente Geraldo Theodoro da Silva, servindo no Regimento de Cavalaria (hoje Regimento 9 de Julho).

Para evitar possíveis confusões, deliberou-se acrescentar, no fim do nome do mais antigo o ordinal 1.º e, no outro ordinal 2.º, ficando então: o 1.º Tenente Geraldo Theodoro da Silva 1.º, do Regimento e 1.º Tenente Geraldo Theodoro da Silva 2.º o Instrutor da Escola de Oficiais.

Com o tempo o Tenente Cavalariano foi transferido para o 3.º BC - Ribeirão Preto. Num certo dia ele foi tomado pelo demônio matou sua esposa e os filhos pequenos. Uma testemunha ocular declarou que viu o filho mais velho ajoelhado, chorando e suplicando meu pai não me mate!.

Deixemos de tristeza e contemos o que aconteceu, envolvendo o Presidente Jango Goulart. Em 1964, estava eu no comando interino do Batalhão quando, a 31 de março, o Presidente Jango Goulart foi apeado do poder, que havia assumido em 1961, em consequência da renúncia de Jânio Quadros.

A situação política de 61 a 64 foi extremamente grave, havendo protestos nos quartéis e na sociedade brasileira.

É meu pensamento que Jango, antevendo uma guerra civil cruenta em nossa Pátria, irmãos contra irmãos, evitou-a, voando (não fugindo) do Rio de Janeiro a Brasília, em seguida a Porto Alegre, asilando-se em Montevidéu (conta-se que, na capital gaúcha, seu cunhado, governador Leonel Brisola, chamou-o de covarde, chegando mesmo a agredí-lo).

Naquela noite de 31 de março, o Comandante Geral da então Força Pública, o Gen. João Franco Pontes, ordenou prontidão geral, a tropa armada e equipada “pronta para e em condições de”.

Cumprimos a ordem e ficamos à espera de novas determinações. A espera foi estafante e angustiante, porque boatos e mais boatos perturbavam o nosso espírito. Um deles foi que o 4.º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais, sediado em Uberaba, vinha atacar Ribeirão Preto. Outro boato, que a Aeronáutica, aliada às Forças Mineiras, invadiriam São Paulo e Brasília, empossando novamente Jango Goulart.

No comando do Batalhão, minha preocupação era enorme, pois a nossa munição era escassa, quase zero; tínhamos 2 armas automáticas, uma metralhadora Madsen e uma Hotkiss, ambas precisando de reparos, 3 sub-metralhadoras INA. Os 200 fuzis estavam perfeitos.

Uma noite, notei dois homens, aparentemente jovens, na esquina do quartel, iam e vinham pelas ruas 7 de Setembro e São Sebastião; detidos, eram 2 Sargentos do Batalhão de Uberaba, declarando que estavam cumprindo ordens do seu Comandante, observando o nosso movimento.

Foram liberados com um recado ao comandante do 4º. BI de Minas, que eu iria visitá-lo, inspirado e confiante na velha política do Café Com Leite.

Em companhia do Ten. Espíndola, rumamos a Uberaba, onde fomos maravilhosamente recebidos pelo Cel. Bacarense, que também estava temeroso com muitos boatos, inclusive que o 3.º Batalhão de Ribeirão Preto já tinha atravessado o Rio Grande, estando já em território mineiro.

Rimos à vontade durante o almoço. Gentilmente foi nos mostrado todo o quartel, o Batalhão com 1000 homens, no pátio, muitas oficinas, os soldados atentos no manuseio de armamentos modernos, dezenas de metralhadoras americanas ponto 30 e ponto 50 e cunhetes de munição a perder de vista. Encolhi-me, fiquei quietinho, humilhadíssimo, lembrando da pobreza do nosso efetivo, munição escassa, e com as armas automáticas que não funcionavam.

Bacarense nos esclareceu que Juscelino Kubtchek, quando no governo de Minas, dotou todos os Batalhões de modernos apetrechos de guerra. Qual seria a sua intenção?! Voltamos aliviados a Ribeirão, confiando mais uma vez na política do Café Com Leite.

Em Ribeirão Preto e região havia muitos Janguistas, todos fichados na Delegacia Regional, como elementos de esquerda, situação aparentemente grave, fazendo com que o Cel. Ex. Helio Lemos, Chefe da Circunscrição de Recrutamento (CR), portanto Comandante da Praça, nos convocasse, o Dr. Celso Camargo da Polícia Civil e eu, Comandante do Batalhão para, numa ação conjunta tomássemos medidas para a segurança de toda a região Nordeste do Estado.

Solicitou o Cel. Lemos que cedêssemos Investigadores e Praças, para detenção de elementos suspeitos de praticar qualquer ato desafiador ao novo regime, presidido pelo Gen. Castelo Branco.

O nosso quartel se tornou um presídio político; entre os detidos havia médicos, advogados, jornalistas, escritores, um padre, uma freira e também homens simples e muitos eram nossos amigos. Deu-nos a entender o Cel. Lemos, que as ordens vinham de Brasília (até hoje fico em dúvida). Todas as detenções, o Dr. Celso e eu, naturalmente, concordávamos mas uma vez nós dissemos Não, quando a ordem foi a detenção do Prefeito Welson Gasparini, que achamos um absurdo e o Comandante da Praça imediatamente a revogou. 

Todos os detidos levantavam com o toque de Alvorada, (o padre e a freira tinham, cada um, o seu dormitório), tomavam café e formavam na revista da manhã ao lado do Batalhão, cantavam conosco o Hino Nacional e a Canção da Força Pública, hoje Canção da PM. Praticavam esportes em nossas quadras, após o almoço recebiam as visitas de familiares e amigos, freqüentavam a nossa biblioteca e recolhiam-se aos alojamentos, com o Toque de Silêncio.

Os médicos detidos davam consultas grátis aos policiais e suas famílias, distribuindo amostras de remédios. Um deles, pediatra, medicou dezenas de filhos das Praças e também de Oficiais. Os advogados, espontaneamente, atendiam aos nossos homens, orientando-os, também iniciando ações judiciais sem cobrança.

O padre, a freira e um evangélico comandavam o culto ecumênico, duas vezes por semana. Tinha um poeta notável, que declamava versos e sempre tinha uma platéia de a aplaudi-lo; o jantar era servido às 18:00 horas.

Em fins de outubro, chegou a ordem de soltura do Cel. Lemos, Comandante da Praça. A meia-noite, todos os portões se abririam e os detidos ganhariam a liberdade.

Nessa noite eu tinha um compromisso na rádio local, para explanar sobre a criação de um Canil para o Batalhão. Várias personalidades de Ribeirão Preto tomaram parte, fizeram muitos questionamentos e prometeram colaborar conosco para a consecução de tão nobre objetivo. A reunião terminou às 2 horas da madrugada. Meses depois o Canil já era uma realidade.

Chegando ao quartel, achei-o todo escuro, muito silêncio e, quando adentrei ao salão do refeitório, todas as luzes se acenderam, os detidos e suas famílias, com pizzas, bolos, doces, frutas, bebidas suaves, à espera do Carcereiro-Mor. Foi uma festa, discursos, abraços, risos e lágrimas.

Durante meses, enquanto permaneci no Comando, todas as tardes muitos deles vinham ao quartel, para uma prosa sadia e tomar o cafezinho que eles achavam o melhor do mundo. 

Yuri, você me perguntou o que mudou da minha época para a atualidade e eu respondo que muita coisa mudou. Na página 7, quando escrevemos sobre o 1.º Batalhão Policial-Choque, ficou evidenciado que grande transformação na Força Pública, a partir de 1947, quando diminuíram as instruções militares, foram esquecidos os ensinamentos da Missão Militar Francesa, que tornou a nossa Milícia Paulista no Pequeno Exército Paulista, dotado das 5 Armas – Infantaria, Cavalaria, Engenharia, Artilharia e Aviação Militar.

A Segunda Grande Guerra Mundial já havia terminado em maio de 1945 e ainda tínhamos instruções de Ofensiva, Defensiva, Tática, Estratégia por quê? Talvez para uma guerra contra nossos vizinhos?!!!

Infelizmente havia muitos Oficiais militaristas contra essa transformação mas o bom senso predominou e hoje somos quase 100 mil homens e mulheres trabalhando para a segurança pública paulista, paulistana e dos nossos irmãos, principalmente do Nordeste, que adotaram São Paulo como suas moradas. De militarismo restaram a Ordem Unida, a Disciplina Consciente, noções ligeiras de guerra e muita instrução de Guerrilha Rural e Urbana.

Também é oportuno lembrar a visita de Getúlio Vargas a Ribeirão Preto no período do Estado Novo. Como em Sorocaba, também alguns patriotas de 32 teriam mandado bala na Caravana Presidencial mas... Getúlio tinha o corpo fechado.



11º Batalhão Caçadores - Trânsito

Linhas atrás escrevemos sobre o paralelo 38 que dividia as Coréias do Norte e do Sul. O nosso paralelo em São Paulo era a Avenida São João. O Trânsito também obedecia a divisão, isto é o nosso Batalhão operava nas zonas Norte e Leste e a Guarda Civil nas zonas Sul e Oeste. O nosso Quartel ocupava um andar do prédio da Diretoria de Trânsito, no Parque do Ibirapuera, sendo Diretor da época o Doutor Paulo Pestana.

Nada de importante a registrar, a não ser a visita do Comandante Geral da Força Pública, o Coronel João Batista de Oliveira Figueiredo.



Quartel do Comando Geral – QCG

Belo quartel situado na Praça Fernando Prestes, no Bairro da Luz. Em sua frente um maravilhoso jardim, representando um lago dividido ao meio, o lado esquerdo é o contorno do Brasil e o direito representa o mapa do Japão, em ambos nadando maravilhosos peixes coloridos, e em meio de pedras e árvores ornamentais.

Foi um régio presente da Colônia Japonesa, por ocasião da visita de dois príncipes, Akiito e esposa, hoje os Imperadores da Nação do Sol Nascente.

Em 1967, o Comandante Geral da Força Pública era o Coronel João Batista de Oliveira Figueiredo, quando passamos para a Reserva os Coronéis Delfim Cerqueira Neves, Fenix de Barros Morgado e eu.

A Tropa formada no pátio, dezenas de Oficiais presentes, muitas famílias, a banda tocando várias músicas, pairando no ar uma expectativa alegre.

O toque de clarim anuncia a chegada do Comandante Geral e todos os olhares se voltam para o palanque, onde brilhavam estrelas morenas e douradas nos fardamentos do Exército e os galões com laços húngaros nos ombros dos nossos Oficiais.

Depois das palavras eloqüentes do Coronel Figueiredo, o Chefe do Cerimônial, convida os três Veteranos para usarem as palavras de despedidas. Delfim e o Morgado falaram muito bem. Chegando a minha vez, surge de repente um jovem Cadete do Barro Branco e me beija, é o meu querido filho. A emoção invade minha alma, minha inspiração se alevanta, incendiando as minhas palavras. Não me lembro de nada do que falei, só me lembro do fecho do meu discurso: 

Meu filho você começa onde eu termino, traduzindo as palavras de Giuseppe Verdi para o seu aluno Carlos Gomes – Voi comincha anqui finito io.

Senti, ao meu lado, a emoção de Figueiredo! Naquele momento, talvez lhe veio a lembrança de seu pai, Coronel Euclydes Figueiredo, um dos Chefes da Revolução Constitucionalista de 1932, recebendo o beijo do filho, quando, prisioneiro, demandava Buenos Aires, exilado por Getúlio Vargas. 

domingo, 13 de novembro de 2016

RESPOSTAS AO JORNALISTA YURI - NETO DO GENERAL MIGUEL COSTA

3 – POR QUE E QUANDO INGRESSOU NA FORÇA PÚBLICA?


Ingressei nas fileiras da Força Pública no dia 5 de abril de 1939, ano do início da Segunda grande Guerra Mundial.

Itapetininga era sede do 8.º BCP (Batalhão de Caçadores Paulistas). O Comandante franqueava, aos alunos do ginásio da “Peixoto Gomide”, a utilização de todo o aparelhamento esportivo do Quartel, nascendo então muitas amizades com Praças e Oficiais do lendário Batalhão. O Tenente Izaltino, grande atleta e amigo, era o nosso técnico no futebol e basquete. Num intervalo dos treinamentos, a curiosidade me levou a perguntar-lhe quanto ele ganhava como 2.º Tenente. UM CONTO DE REIS foi a resposta!

Vamos falar de um outro Batalhão, do Exército, vindo de Santa Catarina em 1935, ocupando o nosso belo Quartel. Um ano antes o 7.º Batalhão Paulista tinha um novo endereço, Sorocaba (não era mais o 8.º e sim o 7.º BC, pois aquele tinha o seu novo aquartelamento na Terra das Andorinhas, em Campinas).

Nossa gente estava ainda ressentida com a derrota Constitucionalista de 32. Com o tempo, a cidade já tinha sido conquistada pelos barrigas verdes. Jovens praças e jovens oficiais se encantaram com as belas moças e dezenas ou centenas de casamentos aconteceram.

O Comandante do novo Batalhão autorizou a continuidade dos nossos jogos, agora no Quartel do 5.º Batalhão de Caçadores do Exército. Novas e boas amizades aconteceram, e o Tenente Nelson foi uma delas; ele era o nosso novo treinador a quem, num momento de recesso, perguntei qual o seu ordenado?. A resposta UM CONTO DE RÉIS. Quase desmaiei pela segunda vez.

Não tive dúvidas! Portando o diploma ginasial tomei o trem da Sorocabana (segunda classe) rumando para a Pauliceia Desvairada, que eu já sabia ser dinâmica e linda. Desembarquei na Estação Júlio Prestes, atravessei o Jardim da Luz, entrei no Quartel do CIM (Centro de Instrução Militar) e agora, aos 96 anos, eu digo Obrigado meu bom Deus!.



domingo, 6 de novembro de 2016

RESPOSTAS AO JORNALISTA YURI - NETO DO GENERAL MIGUEL COSTA

2 - O QUE FAZIA ANTES DE INGRESSAR NA FORÇA PÚBLICA?

Minha infância foi vivida na encantadora Terra do Petróleo, onde ganhei as primeiras letras, a professora a mãe Francisca e o diretor do Grupo Escolar o professor Ezequias Machado da Silva, emérito educador.

Em 1933, eis-me em Itapetininga, cursando o primeiro ano ginasial na bela e famosa Escola Normal “ Peixoto Gomide”. A viagem de Bofete a Itapetininga foi inesquecível – 7 horas a cavalo até Pirambóia, onde ficamos à espera do trem que vinha de Botucatu e ele chegou resfolegante, barulhento, jogando baforadas de fumaças no ar. Confesso que tive medo daquele monstro de ferro; fizemos a baldeação em São Roque para o ramal de Itararé. Havíamos saído de Bofete a meia noite, e depois de 20 horas de viagem chegamos à nova morada, a bela Itapetininga. Hoje, de automóvel, cortando por Guareí, o tempo não passa de uma hora!

Terra de Fernando e Júlio Prestes (este eleito Presidente da República em 1930), grandes patriotas e grandes políticos, terra também de Venâncio Aires, o Comandante das tropas de cavalos e muares, comprados no Rio Grande do Sul e Uruguai para a grande feira de Sorocaba.

Espantei-me com a cidade grande, onde conheci o telefone e o rádio. Achei lindo o mercado, a feira aos domingos na Avenida Peixoto Gomide, lindas também a farmácia do Valdomiro e as Escolas de Ensino, conhecida Itapetininga como Atenas do Sul Paulista; também me encantaram o Campo da Aviação atrás do cemitério, o garboso 8.º Batalhão, o rio Itapetininga, as lagoas, a cachoeira, a represa do Tenente Carrito, as lavadeiras rodeando a caixa d’água (a Prefeitura dava água de graça), as festas de carnaval e as religiosas, a mocidade alegre das Escolas castigando os calouros, banhando-os seminus no repuxo da Praça, o alto falante no Largo dos Amores, irradiando as músicas de sucesso da época e troca de mensagens de amor entre os namorados. Quantos romances nasceram!!!

Morei com dona Olímpia Meira, minha avó querida. Viúva de Francisco Afonso Pereira (os dois meus avós maternos), ainda jovem, com 3 filhas pequenas, Francisca minha mãe e as queridas e saudosas tias Laura Santos e Maria Antonieta. Minha avó falava de sua mãe Maria, minha bisavó e sobre o meu bisavô só sei que era um bom carpinteiro e que, na mocidade, pertenceu àquela legião de bandeirantes da época, os heróicos tropeiros de Venâncio Aires.

Em 1938 a formatura no Ginásio. E agora, o que fazer? O destino me encaminhou para a vida castrense. Hoje, com a graça do bom Deus, me sinto feliz. Vejo-me no cume duma alta montanha contemplando a bela paisagem, ressumbrando nessa paisagem divina minha querida família e meus queridos amigos, e você Yuri é um deles.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

RESPOSTAS AO JORNALISTA YURI - NETO DO GENERAL MIGUEL COSTA

 1 - CONTE UM POUCO DA SUA VIDA. SEUS ANTECESSORES. ONDE MORAVAM
      E O QUE FAZIAM?

           Nasci a 30 de dezembro de 1920 na pequena cidade de Bofete, situada na média sorocabana, nos contrafortes da serra de Botucatu. Ela é um santuário ecológico, conhecida como a Terra do Gigante que dorme (um conjunto de serras e vales dão o contorno de um Bandeirante Adormecido; é um lindo capricho da natureza).
            Bofete também é citada por Monteiro Lobato como a Terra do Petróleo, onde foi aberto, em 1894, o primeiro poço na América Latina. Seu nome é um galicismo, derivado de buffet, um armário repleto de comida; na época era chique os mascates falarem “vamos baixar o buffet na margem daquele rio piscoso”. É o Rio do Peixe que banha minha terra, minha doce terra. Eles levavam, em seus carroções, baús e canastras, uma infinidade de mercadorias, objetos e coisas carentes no vasto interior de São Paulo, como sal, açúcar, tecidos, linhas, botões, agulhas, carreteis, espelhos, pó de arroz, água de cheiro, pólvora, espingardas, garruchas, armas brancas, arreios, rédeas e freios, material de pesca, sementes para plantações, etc. etc., para a venda ou trocas. Levavam também jornais e notícias da Capital da Província e da Corte Imperial. Eram os Bandeirantes da época.
           Português de nascimento, é difícil explicar como JOAQUIM DE OLIVEIRA E SILVA surgiu na Vila Samambaia (foi o primeiro nome, o segundo foi Rio Bonito e Bofete a partir de 1923),na segunda década do século 19, vencendo as intempéries, transpondo rios e florestas virgens, enfrentando onças, jaguatiricas, gatos e cachorros do mato, cobras venenosas e o íncola selvagem.
           Talvez o aventureiro, satisfeita a curiosidade, demandaria a outras plagas mas alguém atravessou o seu caminho, uma morena bonita que flechou o coração do lusitano.  DEOLINDA  PAES  o seu nome. Ela é a minha bisavó e Joaquim de Oliveira e Silva meu bisavô. Casaram e ganharam umas terras, uma sesmaria do Imperador.
           Tiveram doze filhos, seis mulheres e seis homens. Um deles foi PEDRO DE OLIVEIRA E SILVA que se tornou fazendeiro, casando com AMÉLIA PEREIRA DE MELLO, que são os meus avós paternos; tiveram cinco filhos – OLIVERIO, JONAS, RAUL, ANTENOR E HOMERO. O terceiro filho Raul, meu amado e saudoso pai, lavrador na fazenda Ponte Alta. Na segunda década do século XX foi nomeado Coletor Estadual de Bofete (na época Rio Bonito).
            Uma morena também atravessou o seu caminho, flechando o seu coração. Professora da Escola Normal de Itapetininga, formada em 1909, FRANCISCA JENI, minha amada e saudosa mãe, oriunda dos Meiras, tradicional família da terra, foi nomeada para o Grupo Escolar de Bofete.
           Nessa terra, Francisca Jeni encontrou sua alma gêmea, o guapo moreno Raul, o seu grande destino. Dona Francisca, como era chamada, foi minha primeira professora, também dos meus irmãos e durante mais de 30 anos alfabetizou inúmeras gerações. Nove filhos resultaram desse amor,sendo eu o quinto rebento, vindo mais quatro depois. Somos agora cinco, porque EUVALDO, ENEIDA, ELLY E MARIA APARECIDA – saudosos e queridos irmãos -  já transpuseram o Portal da Eternidade e habitam a Casa do Pai.